Os totalitarismos não são ideologias políticas, mas conluios de psicopatas que objetivam um poder só alcançado mediante a destruição massiva da consciência. Por isso alvejam, acima de tudo e com máxima violência, a dignidade humana, aquilo por onde esta se manifesta e aquilo de que se alimenta. Destarte só passam numa sociedade corrompida, cujos indivíduos abdicaram completamente do próprio valor. A dignidade nunca hesitará entre o totalitarismo e a cadeia, entre aquele e o fuzilamento. Contudo, há de se notar que a ela, salvo em raros casos, não é concedido escolher entre essas opções. A dignidade o mais das vezes se esvai à medida que o totalitarismo avança, e este, ardiloso que é, o faz paulatinamente, através de pequenos espólios, pequenos desmandos, de forma que não dê a entender que vagarosamente se impõe. Um passo de cada vez e, a cada êxito, um novo passo adiante. Assim que, em verdade, é essa uma guerra travada pelo indivíduo em pequenas batalhas, pequenas escolhas, cujo único resultado que deveras lhe importa — aquele sobre o qual tem controle — é corromper-se ou não.