Não há palavras para descrever a sensação…

Não há palavras para descrever a sensação que experimentamos quando, apreciando a paz que emana de um texto hindu, recordamos as barbaridades descritas por Oliveira Martins cometidas em solo indiano. É um assombro. Imaginar os portugueses, justamente nesta terra onde a paz é sagrada, chegando como demônios, assaltando e assolando, ateando fogo, roubando, assassinando, submetendo. E, mesmo nos desembarques menos violentos, corrompendo pelo exercício desenfreado dos vícios mais grosseiros, do materialismo mais radical. Só de pensar em cidades indianas transformadas no receptáculo daquelas perversões espantosas, no destino das maiores ambições terrenas, no paraíso da depravação… o melhor é nem continuar.

É realmente difícil conciliar a paz interior…

É realmente difícil conciliar a paz interior com as demandas diárias que, imprevisíveis, as vezes parecem não objetivar senão destruí-la. Daí que se impõe a articulação de um plano consciente para sustentá-la, cuja ação primordial é relembrar-se de contínuo de sua necessidade. Pois o refúgio, a paz interior são bem isto: necessidades. Do contrário, não se consegue a sobriedade no pensamento e muito menos a tranquilidade necessária para a justa reflexão.

É incrível notar como a poesia…

É incrível notar como a poesia, da metade do último século em diante, tornou-se praticamente ilegível. Ilegível e ruim, salvo raríssimas exceções que parecem pertencer a outro tempo. Não adianta, nem com a máxima boa vontade supera-se o problema: a poesia contemporânea, quando muito, aparenta interessante, ilude quando dotada de uma obscuridade que parece guardar algum tesouro. Enfim, o esforço para compreendê-la nunca compensa. É lamentável.