O tédio, a lassidão e os vícios que deles decorrem só se dão quando não se executa algo para o qual o espírito se volta motivado. Como não se pode fazê-lo o tempo inteiro, todos experimentamos algo destes vícios. Contudo, há uma diferença enorme entre aqueles que diariamente exercem algo motivante, e que portanto lhes suga a atenção e o interesse, e aqueles que não o fazem. Estes acabam como que se deixando conduzir por impulsos automáticos, num ciclo que não pode senão produzir o tédio mais incômodo e nocivo. Privam-se, pois, desta delícia que é o entusiasmo por alguma finalidade, que é direcionar a ela o espírito cheio e experimentar a sensação de que o tempo foi bem aproveitado. A própria vida, como por mágica, torna-se estimulante.
O que mais distingue o ódio…
O que mais distingue o ódio é seu caráter obsessivo, permanente e insaciável, que não se contenta senão com a destruição completa e terminante de seu objeto. Assim que o ódio, uma vez despertado, é como a chama que não se pode extinguir. Pelo motivo que seja, aquele que o desperte faz melhor em desistir de qualquer reconciliação. Se alvejado pelas massas, é bom que esteja consciente de ter-se metido num certame sem fim.
O desconforto espanta a futilidade…
O desconforto espanta a futilidade com uma eficácia tão absoluta que, muitas vezes, sua chegada revela-se providencial. Sem ele, quantas empresas não seriam preteridas, quantas decisões não seriam jamais tomadas, quantas biografias deixariam de ser? Assim que se tem de valorizá-lo enquanto elemento motivante, em vez de ceder ao impulso mais corriqueiro de reclamar. Quando se lhes analisa as obras, quer em abundância, quer em qualidade, o desconforto submete completamente o conforto.
Se o que distingue o ser é o ato…
Se o que distingue o ser é o ato, e o que caracteriza o ato é a escolha, é preciso repetir mil vezes que o indivíduo sempre se torna as escolhas que faz, e que a sabedoria se resume a saber escolher. O problema é que a escolha, enquanto elemento unificante, é menos uma decisão que uma prática perene, de forma que, sem esta continuidade, desfigura-se, chegando mesmo a se anular. Escolher, portanto, envolve decidir e manter-se fiel à decisão.