Lavelle está certo quando diz que “de toutes les vertus de l’âme, la douceur est la plus subtile et la plus rare”. A doçura, quando vista, desarma, e quando praticada, faz um indescritível bem. E por ser rara como é, é facílimo para o homem esquecê-la, e naturalíssimo não praticá-la. E mesmo que, num lance, seja por ela iluminado, terá de se esforçar muito para relembrar-se desta experiência que, como todas as outras, o tempo se esforça para dissipar. Mas é preciso que se esforce, é preciso que se lembre todos os dias de como esta fina virtude, às vezes manifesta por uma palavra, por um gesto, por um olhar, é a mais efetiva para que se aflore um sentimento bom.
A repetição é divertida por demonstrar…
A repetição é divertida por demonstrar que, anunciando-o, um problema não se resolve. E retorna de praxe sob novas formas, exigindo assim novo reconhecimento. É difícil, como é difícil manter a integridade no contato com o mundo! Se esse esforço é o que Goethe nomeava caráter, o mundo não pode ser encarado senão como um teste. E sem a prece, sem a meditação e sem a afirmação diária dos votos, degrada-se muito facilmente perante um mundo vencedor. Não há mais que dizer: a oração e a meditação são práticas altíssimas e indispensáveis. É distanciar-se delas, é distanciar-se das leituras construtivas, e o espírito se perde tão rapidamente quanto se fortalece quando delas se aproxima. Somente os tolos o podem negar.
O que dignifica o ser é a obra ativa
De Lavelle:
Il n’y a qu’une attitude qui donne à la douleur son véritable sens, c’est celle qui consiste à l’accepter, à la faire nôtre, à lui demander les moyens d’enrichir et d’approfondir notre être intérieur, c’est-à-dire à la convertir en un principe de joie. L’origine de la moralité est la souffrance volontaire.
O que dignifica o ser é a obra ativa que realiza sobre as circunstâncias à sua disposição. A dor, pois, como todo o resto, adquire sentido apenas enquanto transmutada, enquanto absorvida e utilizada como combustível para alguma transformação positiva. Não há mérito ou demérito em sofrê-la; o homem, contudo, só aparece quando a transfigura, imprimindo necessariamente a sua marca individual.
A “harmonia imitativa”
É uma delícia ter saído da pena de Lima Barreto as divertidíssimas ironias aos poetas da Bruzundanga, obsessivos com a dita “harmonia imitativa”, querendo-a como se aliterações e assonâncias correspondessem ao ápice do estro, à manifestação mais pura da genialidade criadora. Em verdade, quando tais artifícios aliam-se a uma expressão banal, como frequentemente ocorre, o resultado é mesmo ridículo. E é bom, muito bom que isso tenha sido observado por um escritor tantas vezes criticado, mas que escancara um mérito que a maioria de seus críticos não têm.