A função positiva dos sonhos geralmente não passa de um estímulo à imaginação. Pode-se sonhar muito sem nada fazer; pode-se até viver em sonhos, deleitando-se e sentindo verdadeiramente ao sonhar. Há, porém, no tipo mais comum de sonho consciente, algo que, se não é exatamente lúdico, é com certeza livre do peso de uma ação real. Tudo isso muda quando o sonho toma forma de desígnio, de propósito, o que normalmente ocorre quando se abre mão de algo por ele. Aqui, o sonho densifica, o sonho já influi na vida e, em certa medida, começa a se concretizar. É verdade, é verdade: muitas vezes, permanece irrealizável, ou ao menos não se concretiza. Isso talvez não importe; a seriedade que ganha é suficiente para diferenciá-lo dos sonhos corriqueiros e, sobretudo, para decidir.
Um autêntico filósofo
A impressão que ficamos após percorrer estas quase seiscentas páginas da biografia de Schopenhauer assinada por David Cartwright é só uma: Schopenhauer é um autêntico filósofo. Isso se nota porque, para um conhecedor da obra de Schopenhauer, sua biografia não guarda surpresas, algo que equivale a dizer que sua vida foi condizente com sua filosofia ou, ainda, que sua filosofia era real. Para dimensionar a dificuldade, e quiçá a grandeza deste feito, basta compará-lo às misérias abundantes descritas por Paul Johnson na vida de seus intelectuais. Em Schopenhauer, vemos uma índole gravada em cada ato, em cada reação; vemos um homem que, a despeito de quanto se lhe pode dizer a respeito, não se traiu e nem se falsificou. Tal integridade, raríssima, é merecedora do maior reconhecimento.
É mesmo um milagre isto que frequentemente…
É mesmo um milagre isto que frequentemente se observa na construção de poemas, quando às vezes se troca uma única palavra, se apara esta ou aquela aresta, e um todo sem graça, repetitivo, banal, muda como que completamente de caráter, e a expressão, antes frustrada, parece enfim satisfazer a intenção inicial. A lição desta experiência é que o poeta deve prosseguir nos momentos em que a criação desagrada, deve esforçar-se por dotar o poema ao menos de uma estrutura coesa, estrutura fundamental para que os brilhantes e às vezes inesperados detalhes possam sobressair.
A boa literatura tem sempre um caráter instrutivo
A boa literatura tem sempre um caráter instrutivo, ainda que velado, o qual possibilita que o leitor cresça através da leitura. Por isso faz bem ao escritor questionar o quanto ganharia um leitor hipotético ao ler o que pretende escrever: a depender da resposta, talvez o melhor seria buscar outras ideias, mais convincentes, mais realistas, menos egoístas e mais individuais. Porque é bem isto o que fica evidente quando se pratica tal exercício: as melhores ideias, aquelas que com mais facilidade agregarão algo à experiência do leitor, são aquelas mais particulares, aquelas mais intensamente vividas e mais profundamente assimiladas. Em resumo: ensina-se bem somente aquilo que se conhece bem.