Há um conselho que muito agradaria os leitores…

Há um conselho que muito agradaria os leitores, mas jamais foi dado a escritor algum, e que consiste no seguinte: o autor cujas páginas dos livros que tem não bastam para satisfazer sua necessidade de comentá-los faz bem destinando o excesso, ou o todo de seus comentários a uma obra concebida especificamente para tal. Fazendo isso, evita-se, primeiro, que tais comentários se interponham numa narrativa que nada tem com eles, que a interrompam e a atrapalhem. Em segundo lugar, tal obra, existindo, fará bem ao próprio autor, que terá nela um estimulante depósito de comentários, caso não disponha de um amigo ou uma pessoa real qualquer para exercer esta função.

A vantagem de um romance cujo arco dramático…

A vantagem de um romance cujo arco dramático é bem definido, ainda que a sucessão de acontecimentos, por exageradamente coesa, beire a artificialidade, é manter vivo e intenso o sentido de conjunto na mente do leitor, algo que, resumindo, sustenta-lhe o interesse. Já os romances, digamos, mais “naturais”, que refletem a natural futilidade dos personagens e a natural trivialidade de suas vidas e de suas preocupações, rapidamente se tornam tediosos e, ainda que aparentem menos forçados, muitas vezes não resistem à tentação constante de fechá-los.

O mais difícil em retratar a circunstância temporal…

O mais difícil em retratar a circunstância temporal na obra literária é especificá-la a ponto de que se torne especial, ao mesmo tempo que se lhe sintetiza a ação enquanto agente exterior num esquema que extrapole o tempo. Tenda para qualquer um dos lados, e o artista falhará em fazer com que a obra desperte um interesse duradouro, só possível quando se constrói camadas de sentido diversas, mas indissociáveis, conectando o abrangente ao particular.

O mais impressionante da arte medieval…

O mais impressionante da arte medieval, na qual encontra-se uma profusão de símbolos fabulosa e estonteante, quer no conjunto, quer nos detalhes, é revelar um homem habituado a extrair sentido de tudo, um homem para o qual nada pode haver sem uma significação implícita, um homem incapaz de representar algo que apenas fale em sentido literal. Essa maravilhosa capacidade imaginativa, por si só, é um troféu que consagra uma era.