É sempre um grande desafio equilibrar…

É sempre um grande desafio equilibrar as tensões conflitantes quando uma tendência predominante se manifesta no espírito, quer compelindo à exteriorização, quer à interiorização. A personalidade frequentemente escancara esta dificuldade, cujo problema maior não é seguir ou afastar-se da tendência inata, mas lidar com a oposta, a qual frequentemente se apresenta como dever. Dever, então, agir contra a própria natureza, fazer de contínuo o mais penoso, sob ameaça constante de condenação pela consciência! Talvez seja esta a maior utilidade das biografias: registrar os rebentos deste conflito na vida daqueles para os quais viver se contrapõe a obrar.

Simultaneamente ao fato de que ao escritor…

Simultaneamente ao fato de que ao escritor, hoje, parece impossível esboçar uma linha sem o auxílio de um computador, isto é, sem esta maravilhosa ferramenta que possibilita o dispor de uma montanha de dados organizada, acessível e, sobretudo, na qual se pode pesquisar qualquer coisa em segundos, concorre o fato de que nem esta, nem qualquer automatização é bem aproveitada quando não se sabe realizar o processo sem ela. Quer dizer: é preciso aproveitar-se, mas não depender dela para que o trabalho seja feito; o que significa, em outras palavras, entender suas possibilidades e limitações.

Vencida a admiração inicial…

Vencida a admiração inicial, imaginar os estados de êxtase descritos por Nicolae Steinhardt quando encarcerado é algo assaz instrutivo. Após deixarmos de questionar a plausibilidade dos relatos, ou melhor, após as aceitarmos, percebemos que é justamente na carência mais extrema, no sofrimento mais agudo que se pode encontrar o alívio supremo. Quando a vida se reduz aos seus rudimentos, vê-se claramente o mais importante, vê-se quanto nessa vida há de supérfluo, aquilo que a justifica e aquilo que se há de conservar. Mas a graça, sobretudo, é constatar que a miséria mais extrema e mais sufocante não é absoluta, nem a última palavra.

O cristianismo acerta quando recomenda leniência

O cristianismo acerta quando recomenda leniência ante os erros, quando diz ao homem que não se permita aprisionar nas garras demoníacas do remorso. Em verdade, sem tal leniência, a carga da vida torna-se facilmente insuportável. Mas além disso, o espírito deixa-se impregnar de um orgulho injustificável, de uma incapacidade de reconhecer em si a falibilidade, com a qual não se pode verdadeiramente evoluir.