Mais linhas sobre o amor…

O que de praxe chama-se de “amor” exige, obrigatoriamente, uma atitude ativa por parte do amado. Isso a mim é tão óbvio que às vezes me pergunto onde está a falsificação: se na palavra, se no conceito, ou se precisamente essa geração subverteu o sentimento que por séculos denominou-se “amor”. O amor moderno, sobretudo, apresenta-se como necessidade, carência de ser alvo de um esforço alheio, de sentir-se valioso, acompanhado, afagado por alguém que se compromete a agradar. Se o amado toma-o a apatia, pois que o “amor” desbota. Mesquinho esse amor não literário, cuja supressão — seja pela distância ou pelo rompimento — não machuca senão pela constatação da falta dos prazeres (efeito) gerados pela atitude ativa do amado… Sei, sei… exagero, mas como disse: em minha parca e breve experiência, jamais vi amante que amasse uma árvore, muito menos uma pedra…

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Amor: ressalto do egoísmo

Em minha limitada e breve experiência, jamais vi nada que se aproximasse à concepção altruísta do amor. Pelo contrário, os exemplos que a vida tratou de me prover sempre evidenciaram o amor como um ressalto do egoísmo. Mais: identifico facilmente o amor quando o vejo convertido em ódio, em processo naturalíssimo, quando o orgulho, ferido, prescinde dos escrúpulos e mostra-se em máximo vigor.

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Liberdade ou escravidão?

Raia a segunda-feira. O sujeito acorda, cedo, e dirige-se o trabalho, onde lhe passa o dia. Torna à sua casa, exausto, onde lhe restam poucas horas antes de dormir. No dia seguinte, repete a rotina, e depois e depois, a esperar no fim do mês um salário. Finais de semana: se o dinheiro sobra — ou falta, — é hora de empregá-lo a obter algum prazer. Passa-se um, dois, vinte anos, e o sujeito permanece na rotina, já ansioso pelo dia em que o Estado lhe pagará as despesas mensais. Pergunto: a liberdade, se em doses homeopáticas, não seria a escravidão? Ou ainda: não se perceber escravo não seria, em essência, patologia cerebral? De qualquer forma, reconheço: é melhor que tudo fique como está, seja pela placidez da rotina, seja pela escassez de antidepressivos no mercado.

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Imprecisão dos textos bíblicos

Há um argumento extremamente irritante na refutação dos textos bíblicos: a precariedade no processo de reconstrução e transmissão dos textos antigos. Ora, se considerarmos que os métodos de transmissão eram precários a ponto de comprometer a autenticidade do que foi escrito — e tivermos o mínimo de coerência, — então teremos de atirar no lixo tudo quanto foi produzido na Antiguidade; logo, estaremos proclamando a falsidade de, para citar um único exemplo, toda a obra de Aristóteles. Creio seja absurdo acreditar na falsidade do que foi escrito  e repassado à luz de milhares de testemunhas ao longo do tempo, em absoluto foco de atenções: para tanto, será forçoso acreditar na ação conjunta de muitos homens de distintas gerações em prol da falsificação. Isso, a mim, não é senão uma ofensa covarde à honrosa iniciativa de tantos ao longo dos séculos a fim de preservar o conhecimento humano; se procedemos desta forma, acabaremos por considerar, rigorosamente, inválida toda a produção cultural que não a da modernidade.

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