É muito bom livrar-se deste vício…

É muito bom livrar-se deste vício de admirar com restrições, o qual é, praticamente, não admirar. A admiração autêntica encerra o elogio com um ponto final. Mas fazê-lo é realmente difícil, porque, desconsiderando a vaidade, é realmente difícil acostumar os olhos a centrarem-se naquilo que é bom. Quando não se aprende a fazer isso, tira-se de tudo um gosto sempre mais ou menos amargo, e enfim não se aproveita o cunho edificante da verdadeira admiração.

É dificílimo encontrar uma angústia…

Quando se examina bem, é dificílimo encontrar uma angústia que não seja proveniente de uma escolha, anterior ou presente. Apenas isto bastaria para despertar na mente a certeza de que traça em grande parte o seu destino, e colhe certamente os frutos daquilo que plantou. Se o não reconhece, é porque não amadureceu o suficiente para assumir o encargo das próprias decisões, e enquanto não o fizer, permanecerá num estado de submissão imaginário que adicionará aos malefícios da angústia aqueles da ignorância.

O intelectual que se preze deve ter não somente…

O intelectual que se preze deve ter não somente como ponto de partida, mas como noção constante a de que sua vida é uma chispa num mundo que já existia e continuará a existir. Sem isso, é-se facilmente engolido por uma vaidade afinal risível. E quando vemos a quantidade de intelectuais modernos a cair nesta ilusão primária, quando vemos o quão despudorado tornou-se o amor-próprio, fica patente um alheamento da realidade que o homem pré-histórico não se poderia jamais permitir, e mesmo para os bichos, o permiti-lo significaria a extinção.