Talvez o mais difícil na construção…

Talvez o mais difícil na construção de um personagem é vislumbrar, de antemão, a consistência interior que terá de ser manifesta em atos. Muitas vezes, esse vislumbre só se dá a partir do momento em que o personagem começa a se mover. Mesmo assim, a prática demonstra que não é tarefa simples, nem segura, quando se tenciona representar um modelo convincente, visto que fazê-lo é conceber unidade através de contradições. Neste sentido, o trabalho é parecido ao de um biógrafo, apesar de que este, na maioria das vezes, pode apoiar-se em material concreto para começar a trabalhar.

Quando se conhece as próprias fraquezas…

Quando se conhece as próprias fraquezas, às vezes impressiona o olhar para trás e constatar quanto pôde ser feito a despeito de todas elas. Impressiona notar que, o que parecia pouco, muito pouco na escala diária, soma-se e avulta sobremaneira com o tempo. Mas há, decerto, algo além. E aquele que o experimentou uma única vez poderá compreender o artista espantado que, após anos de trabalho, mira-os concluindo: “Não pode ter sido apenas eu que o fiz”.

Há uma diferença entre o estudante…

Há uma diferença entre o estudante que busca solucionar problemas e o que busca expandir seu arsenal de impressões. O primeiro muito se beneficia quando, por longos anos, fora o segundo; já este, naturalmente, tenderá a se converter no primeiro, tão logo sinta o incômodo de permanecer passivo diante das contradições que se vão brotando de suas impressões. De qualquer modo, o primeiro nunca pode deixar totalmente de agir como o segundo, pois ser-lhe-á sempre benéfico que aumente o acervo de informações no qual poderá procurar por respostas. O afã é-lhe, decerto, carregado de importância e responsabilidade adicionais; mas ocorre que, a depender das respostas, é inútil buscá-las sem antes ter passado por uma longa e paciente preparação.

Todas as motivações artísticas são fugazes…

Todas as motivações artísticas são fugazes, senão aquelas que remontam ao reconhecimento verdadeiro do valor da experiência e da nobreza em empenhar-se por representá-la em obra que ficará quando o tempo as consumir. Ser artista, em suma, é ter a arte como algo pelo qual se justifica o esforço de uma vida. Isso, é verdade, costuma se dar somente naqueles que, profundamente impactados, despem-se da vaidade para reconhecer em outro o modelo daquilo que desejam ser: num rasgo de humildade, convertem o agradecimento em motivação.