Em meados do último século, não eram poucos os autores que recordavam saudosamente a belle époque, lamentando uma deterioração generalizada que abrangeu da arte ao cotidiano, das oportunidades aos costumes, da qualidade de vida às relações pessoais. Na maioria dos casos, o lamento partia de autores que viveram a infância no referido período, e portanto adicionavam ao contexto a lembrança de suas mais afetuosas memórias infantis. A geração seguinte, nascida no pós-guerra, que cresceu ouvindo de seus pais as histórias dos tempos passados memoráveis, é hoje a que relata com saudade os costumes que se perderam, as oportunidades que abundavam e o ambiente que se foi. Curiosamente, a geração que hoje vive a maturidade, se ainda não lamenta os tempos áureos de outrora, já pode pressupor com segurança que bastarão alguns anos para que comece a fazê-lo, em vista da atual degradação, também visível e generalizada. Que dizer?
A solidão, em si mesma, está longe…
A solidão, em si mesma, está longe de ser um mal. O que nela há de ruim é a ausência de boas companhias e bons exemplos, tantas vezes determinantes numa formação. É verdade que, em certa medida, é preciso uma inclinação para suportá-la de bom grado; mas, mesmo para aqueles que a possuem, não se pode desprezar quanto perdem em não se poderem rodear de influências que, naturalmente, inevitavelmente, torná-los-iam melhores. Em casos mais extremos, esta ausência produz resultados lastimáveis.
A mitologia grega é mesmo fascinante…
A mitologia grega é mesmo fascinante. E mais a estudamos, mais ficamos impressionados com o painel vastíssimo de condições humanas que ela encerra. Ficamos, aliás, com a sensação de que não há sentimento, não há destino humano que não encontre ali um modelo. E as demais criaturas singularíssimas, as cidades e cenários fantásticos, é tudo demasiado vivo e estimulante para a imaginação. Contudo, há de se notar que, a despeito de todo o esplendor da mitologia grega, parece o seu universo carecer de uma divindade que não se resuma a uma espécie de homem com poderes sobre-humanos. Se é isso o que buscamos, temos de procurá-lo em outro lugar.
A delícia na escolha das rimas
Em meio a agruras intermináveis, não há negar que o fazer poético guarda certa delícia na escolha das rimas, na escolha e na posterior constatação de seu efeito. Não importa o quanto se mecanize o processo, a descoberta de uma rima inesperada é sempre prazerosa e estimula sobremaneira, chegando a tornar-se um como vício que não faz senão mais e mais atrelar o poeta à linguagem. Afinal, é um vício que acaba produtivo e, uma vez experimentado, faz impressionar sobre a indiferença com a qual alguns poetas o repeliram.