A busca pela identidade

A busca pela identidade envolve, em primeiro lugar, o reconhecimento do elemento estável nas mais díspares e afastadas manifestações, isto é, envolve reconhecer a coesão que se desenha durante o desenvolvimento da personalidade. Às vezes, a tarefa não é fácil, e tal coesão não se identifica nos atos, mas numa intenção mais ou menos manifesta, sem a qual o vivido se embaralha em confusão. A identidade porém existe, porque o indivíduo não se desfaz nem se torna outro — e encontrá-la é sempre revelador.

Quem se atenta para a fragilidade das relações…

Quem se atenta para a fragilidade das relações humanas percebe que nelas não se pode confiar. Às vezes chega a parecer que elas, todas elas, nascem condenadas a morrer. As que aparentam bem-sucedidas, basta aguardar para ver o dia em que, de repente, a confiança se quebra, e então tudo acabou. Nem é preciso tanto: por muito menos, por vezes a relação azeda, segue-se o natural afastamento e, quando menos se percebe, já se dera o rompimento total. Nunca, nem a melhor, a mais duradoura das relações, está demasiado segura de um fim intempestivo. Entristece notá-lo, mas as coisas são assim.

O crítico sempre terá o julgamento da obra…

Independentemente da linha adotada, o crítico sempre terá o julgamento da obra literária condicionado à força com que ela penetrou-lhe e se lhe gravou no espírito. Portanto, os elementos que identifica, como a coesão do enredo, a veracidade dos personagens, a beleza da expressão, a relevância dos temas abordados, tudo isso, é como se se provassem tanto efetivos quanto conseguem tornar a obra memorável, e consequentemente mudar, ou enriquecer a compreensão que o próprio crítico tem da realidade. A valorização da novidade, pois, é justificada porquanto a novidade acende uma luz inédita no espírito. Enquanto o crítico permaneça a julgar adotando esta linha, fará uma crítica que pode ser subjetiva, porventura injusta, mas sempre autêntica. Em contrapartida, adotar a via contrária será sempre um desperdício e um desvio de sua função.

Quando se vence o medo da morte…

Quando se vence o medo da morte e se passa a olhá-la com benevolência, as linhas que se escreve saem carregadas de um novo valor. Se a ignoramos, podemos ser iludidos e adotar um objetivo falso para escrever; podemos nos esquecer do verdadeiro valor das letras. Mas se a encaramos, se a aceitamos e se passamos até a estimá-la, o ato da escrita toma algo de transcendente, e encara-se o trabalho como aquilo que de mais nobre se pode fazer.