O iniciante elogia com facilidade

O iniciante elogia com facilidade e dificilmente critica. Isto se dá porque o elogio mais condiz com sua admiração de algo que, se compreende, sente para si ainda inalcançável; já a crítica exige-lhe um conhecimento e uma segurança que não tem. Com o experiente, dá-se o contrário: a crítica é-lhe natural, quase automática, e o elogio lhe exige a rara virtude de reconhecer no outro, apesar do próprio conhecimento, uma capacidade que talvez não tenha. O iniciante cresce, portanto, habilitando-se à crítica, enquanto o experiente o faz aprendendo a elogiar: ambos, em suma, contrariando aquilo que lhes é mais fácil.

Os verdadeiros artistas e os verdadeiros filósofos…

Os verdadeiros artistas e os verdadeiros filósofos têm em comum ser-lhes a obra resultante da reflexão sobre a experiência. Desta, em ambos, brota a necessidade de expressão que, em cada um, se concretiza diferentemente. Quer dizer: é através da reflexão que descobrem o que dizer, e após ela que experimentam a sensação de ter de dizer. O resto é o como fazê-lo — o menos importante. Mas esse impulso inicial que os une atesta a verdade daquilo que fazem e os diferencia de todos aqueles que, pelos mais diversos motivos, perpetuam a falsificação.

A literatura do século XX

A literatura do século XX descobriu que, para conquistar o homem comum, é infinitamente mais fácil descer-lhe ao nível em vez de elevá-lo. É uma descoberta notável. Quando se diz a maior banalidade concebível da forma mais prosaica que se pode imaginar, dá-se algo impressionante, quase mágico, e coloca de joelhos o homem comum. Finalmente, de olhos rutilantes, este experimenta a sensação de compreender aquilo que lê! É uma fórmula infalível, e a ela soma-se o prazer da curiosidade em ver o espetáculo de artistas que, como dentro de um santuário, comportam-se como estivessem numa feira. É sem dúvida uma literatura capaz de exercer um fascínio inigualável no homem comum.

O Modernismo brasileiro

O Modernismo brasileiro prestou um grande serviço à literatura comprovando de vez o quão sem graça, desinteressante e tedioso é o fútil, sendo impossível mudá-lo, mesmo para mentes criativas. É uma poesia comum, destinada a homens comuns; mas uma poesia que não os eleva, nem os estimula, nem os faz pensar. Os falsos intelectuais, é verdade, acham nela inovações infinitas e muito se deleitam — mas terminam, no fim de quantos versos forem capazes de ler, exatamente como estavam antes de lê-los. Já aqueles mal-acostumados com a grande arte, é-lhes impossível suportar mais que algumas poucas páginas destas frivolidades que não fazem senão desviar da única e flagrante verdade: a cabeça que as concebeu nada tinha de interessante para dizer.