A verdadeira personalidade aparece quando se retira a máscara social. Muitos, por receio, passam uma vida inteira sem que possam assumi-la, ou sequer conhecê-la. Disso, o efeito mais evidente é a permanente insatisfação. Não há nada que, nesta vida, substitua o gosto proveniente da autenticidade; para experimentá-lo, porém, é necessário um ato de coragem, sempre disruptivo, de consequências, a curto prazo, o mais das vezes desagradáveis. Ocorre que, muito antes do que se espera, vai-se o choque inicial e sente-se como uma libertação de constrangimentos infinitos, todos eles decorrentes da infeliz tentativa de parecer aquilo que não se é.
Engana-se o escritor supondo…
Engana-se o escritor supondo que transformará sua arte carregando indefinidamente a mesma vida medíocre. É bom ter não mais que um canto para escrever e, temporariamente, ele basta. Também é bom ater-se e acostumar-se ao estritamente necessário para, sobretudo, distingui-lo. Mas para que haja transformação na arte, e para que seja esta verdadeira, é preciso operá-la também na vida, porquanto residem nesta as circunstâncias que motivarão sua obra, a menos que se traia. É necessário, pois, um esforço por modificar e moldar a realidade inteira, tanto quanto suas forças o permitam; e se dele não provierem resultados satisfatórios, será do próprio lidar consciente que brotará o melhor de sua motivação.
A maturidade talvez se faça notar…
A maturidade talvez se faça notar por ser a fase em que se torna impossível começar uma empreitada e posteriormente abandoná-la, em que se pensa sempre no fim e aquilo que se faz é feito para que, se não termine num ponto previamente definido, perdure pelo resto da vida. É uma fase em que desaparece o ânimo pelo teste curioso e passa-se a agir com segurança e resolução. É uma fase, pois, em que se enxerga simultaneamente a motivação e o objetivo, só movendo esforços em prol daquilo que esteja em consonância com a natureza interior. Há homens que jamais a alcançam…
Os sábios não dizem tudo
Ainda outra de Maricá:
Os sábios não dizem tudo, nem o melhor que sabem: receiam com razão não serem compreendidos, mas perseguidos.
Se assim é, temos de reconhecer os sábios como uma casta especial dentre os covardes. Não, senhor marquês, de jeito nenhum… O sábio, se converte-se em homem das letras, tem de afastar qual medida primeira e imediata qualquer sinal de temor. Ser-lhe-á imperdoável o medo de perseguição a partir do momento em que se colocar a escrever, isto é, a partir do momento em que sua maior virtude se resumirá a ter coragem e sinceridade diante do papel. Se temer a perseguição, é porque não é sábio o suficiente para entender o valor das letras, que lhe dignifica o esforço e o permite justamente se alhear do tempo e converter sua mensagem em relíquia indestrutível, pujante e refratária a perseguições.