A verdade é que a literatura brasileira já é mundialmente relevante. Ocorre apenas que o mundo ainda não o descobriu. Mário Ferreira dos Santos, Otto Maria Carpeaux e Gilberto Freyre: estes três espíritos são os responsáveis por tal façanha, por terem legado obras sem-par na literatura mundial. É certo que, mais cedo ou mais tarde, haverá um alemão, ou um inglês, ou um americano a descobri-los, e então virão as traduções, e então virá o reconhecimento do patamar já atingido e somente não notado. Sem dúvida, tudo seria mais fácil se os afortunados herdeiros assumissem a herança e cuidassem de sua divulgação. Mas aí já é querer demais…
Revisitar Carpeaux
Revisitar Carpeaux e sua História da literatura ocidental para um exame pouco superior a uma consulta é retornar, após meia hora de leitura, com uma lista de trinta ou quarenta obras a serem lidas. Quer dizer: uma lista suficiente para guiar uns bons meses de estudo. Realmente, a História de Carpeaux é inigualável; é fonte inexaurível e companheira fiel para uma vida inteira. Nunca, nunca decepciona; e quando se evolui, quando se amadurece e o pensamento vaga por novos paradeiros, é voltar a ela e encontrar tesouros antes negligenciados ou conscientemente preteridos, para então concluir que nós mudamos, mas o Carpeaux, a despeito de nossa mudança, permanecerá sempre à nossa disposição.
Os caçadores de cacófatos
Não há senão rir, e rir a plenos pulmões, desta crítica que enxerga “um mamão” em “uma mão” e faz divertidíssimas transformações como “a não dizer” em “anão dizer”. Sem dúvida, o que fazem tais caçadores de cacófatos não é crítica literária, mas humor, e humor de ótima qualidade. É preciso estar muito ocioso, ou ser um legítimo palhaço para querer condenar um autor pelo que não disse e nem ao menos pensou em dizer, por algo só divisável numa cabeça inteiramente vazia, que devaneia em vez de prestar a devida atenção naquilo que lê.
Só mesmo uma notícia funesta…
Só mesmo uma notícia funesta para restaurar a razão e colocar as expectativas em seu devido lugar… E todo o desleixo, todo o tédio e torpor para com a existência subitamente se dissipam, quando as circunstâncias compelem à percepção de que é da morte que deriva o sentido de todas as coisas, o senso de urgência, a necessidade de fazer. Então se escancaram o fútil e o importante, o verdadeiro e o falso, a razão pela qual se deve prosseguir com firmeza e resolução, deixando de lado tudo quanto seja ilusório e desvie daquele âmago sem o qual o melhor seria não existir.