Engana-se o escritor supondo…

Engana-se o escritor supondo que transformará sua arte carregando indefinidamente a mesma vida medíocre. É bom ter não mais que um canto para escrever e, temporariamente, ele basta. Também é bom ater-se e acostumar-se ao estritamente necessário para, sobretudo, distingui-lo. Mas para que haja transformação na arte, e para que seja esta verdadeira, é preciso operá-la também na vida, porquanto residem nesta as circunstâncias que motivarão sua obra, a menos que se traia. É necessário, pois, um esforço por modificar e moldar a realidade inteira, tanto quanto suas forças o permitam; e se dele não provierem resultados satisfatórios, será do próprio lidar consciente que brotará o melhor de sua motivação.

A maturidade talvez se faça notar…

A maturidade talvez se faça notar por ser a fase em que se torna impossível começar uma empreitada e posteriormente abandoná-la, em que se pensa sempre no fim e aquilo que se faz é feito para que, se não termine num ponto previamente definido, perdure pelo resto da vida. É uma fase em que desaparece o ânimo pelo teste curioso e passa-se a agir com segurança e resolução. É uma fase, pois, em que se enxerga simultaneamente a motivação e o objetivo, só movendo esforços em prol daquilo que esteja em consonância com a natureza interior. Há homens que jamais a alcançam…

Os sábios não dizem tudo

Ainda outra de Maricá:

Os sábios não dizem tudo, nem o melhor que sabem: receiam com razão não serem compreendidos, mas perseguidos.

Se assim é, temos de reconhecer os sábios como uma casta especial dentre os covardes. Não, senhor marquês, de jeito nenhum… O sábio, se converte-se em homem das letras, tem de afastar qual medida primeira e imediata qualquer sinal de temor. Ser-lhe-á imperdoável o medo de perseguição a partir do momento em que se colocar a escrever, isto é, a partir do momento em que sua maior virtude se resumirá a ter coragem e sinceridade diante do papel. Se temer a perseguição, é porque não é sábio o suficiente para entender o valor das letras, que lhe dignifica o esforço e o permite justamente se alhear do tempo e converter sua mensagem em relíquia indestrutível, pujante e refratária a perseguições.

A mais nobre tarefa dos críticos literários…

A mais nobre tarefa dos críticos literários é corrigir o trabalho malfeito dos críticos de gerações precedentes. Isso inclui ajuizar com a distância necessária para o bom juízo, desfazendo exaltações imerecidas e reparando injustiças lastimáveis. Disso se vê que ao crítico, como ao historiador, é mais do que prudente estabelecer de antemão uma linha de corte temporal que delimite a matéria sobre a qual se debruçará: uma linha fria, rígida e isenta, exatamente como faltou aos críticos que terá de corrigir.