Há, sim, uma satisfação experimentada ao término da penosa escrita de um livro que não se limita ao sentimento de que “finalmente acabou”. Quando se está há algum tempo nesta rota, e o voto já se encontra suficientemente justificado e afirmado e, portanto, o espírito já se afastou daquela empolgação pela novidade e pelo teste, cada obra que se concretiza é um passo adiante em direção ao objetivo primário, responsável por motivar a decisão de escrever. Esta, quando deliberada, tão somente vislumbrava os possíveis resultados que, paulatinamente, a cada obra escrita, se vão enfim materializando e efetivando o plano inicial. Assim, experimenta-se o finalmente mas experimenta-se, também, a sensação de que menos se fantasiou.
A possibilidade de fechar um livro
A possibilidade de fechar um livro, tal como as de pular capítulos, avançar ou retroceder, nunca deve deixar-nos a mente enquanto lemos, posto que a leitura, para que bem aproveitada, deve ser motivada e sustentada por nosso interesse. A menos que fale mais alto um dever inarredável, que alicerce portanto a necessidade de ler da primeira à última linha, quando se manifesta um súbito desinteresse durante a leitura, é preciso agir para evitar a perda de tempo e até a incompreensão. Lembrando-nos sempre de que a leitura é uma escolha, podemos aproveitá-la muito mais.
O intelectual morre no instante…
O intelectual morre no instante em que perde aquela curiosidade característica do jovem estudante, sedento por aprender. Não se baseia em outra coisa a própria atividade intelectual, que exige esforço permanente, entusiasmo pelo desconhecido e vontade de investigá-lo e apreendê-lo. É por isso que, a despeito de quanto lhe suceda, o intelectual não poderá jamais permitir que se apague esta chama, do contrário, juntamente dela se apagará.
O que faz a recentíssima inteligência artificial…
O que faz a recentíssima inteligência artificial é impressionante. O que vislumbramos que pode fazer, ou melhor, o que seguramente sabemos que fará em pouco tempo, é ainda mais. Por isso, há muitos a suspeitar que esteja a literatura ameaçada, ou que os autores, de certa forma, serão “superados” pela máquina e se tornarão irrelevantes. Isso é, decerto, algo falso. Avance o quanto avançar, aprimore-se tanto quanto possível, mas a inteligência artificial jamais se livrará do adjetivo que lhe está colado. Por este motivo haverá sempre um limite para aquilo que poderá fazer, haverá sempre a impossibilidade de que expresse algo que manifeste uma experiência individual, real e única, algo que sirva como a concretização de uma consciência que evolui e se registra no tempo através das letras. E que a tal inteligência se aprimore! que atinja níveis de espetacular acurácia! Assim ficará mais claro do que nunca aquilo que, em arte, é artifício, e aquilo que é substância.