Penso nas concepções artísticas de Poe e Tolstói e, súbito, ponho-me a rir. De um lado, a construção de uma beleza suprema; doutro, a transmissão de um sentimento ao leitor. Objetivos: aí está a graça. Não sei por que, começo a pensar em arte e vem-me à mente o universo cego, representação máxima do acaso. Penso em tudo, como conjunto, e enxergo o nada, o céu vazio, a indiferença, a exterminação certa e a improbabilidade de um fim. “Objetivo” é palavra inventada por homens que, como homens, tende a perecer. Estrelas brilham por nada, uma galáxia imensa pode simplesmente sumir. E acabo refletindo sobre o antiquíssimo “esforço inútil”. A beleza se esconde na certeza da derrota? A misericórdia exige a queda? Se nada mais me interessa, por que exatamente tenho a arte como valorosa, indutora do sentido? Parece-me tudo, sempre, conduzir às mesmíssimas questões…