Parece certo que, um dia, o Brasil oficializará a língua brasileira, visto que o tempo inevitavelmente particulariza a língua falada em diferentes terras, dificultando cada vez mais uma unidade idiomática. Há, nisto, muitas razões plausíveis e muitos erros. O primeiro destes é a suposição de que uma língua deve ter uma “unidade”, isto é, deve ser falada da mesma maneira unanimemente. Chega a ser risível pensar que, oficializada a tal língua brasileira, não será ela suscetível às mesmíssimas variações regionais e aos mesmíssimos processos evolutivos que rigorosamente todos os idiomas falados em larga escala sofreram e sofrerão. É preciso ser muito ignorante para supor que canetadas pautarão a língua falada nas ruas, quando é esta que, em última instância, pauta as gramáticas. Medidas estúpidas como este último acordo ortográfico não fazem senão torná-lo ainda mais evidente. Por outro lado, é compreensível e até natural que um povo anseie por uma expressão autêntica. Mas é preciso muito cuidado para distinguir até que ponto esta autenticidade representa uma evolução necessária, em vez de operar um rompimento brusco com as raízes que a permitiram evoluir.