Um século depois, parecem quase criminosas as insistentes recomendações da senhora Maria Madalena ao seu filho irresponsável, pedindo-lhe que encontrasse um emprego e dedicasse o grosso de seus dias a trabalhar pelo próprio sustento. Aí está o prudentíssimo senso comum visualizado em perspectiva! E ficamos a imaginar que seria de Fernando Pessoa, cedesse à prudência materna e agisse como uma pessoa normal. É verdade, é verdade: Pessoa afundou-se em razão de uma burrice extraordinária; e tinha de pagá-lo. Mas como? Como forçar um homem desta estirpe a desperdiçar-se em banalidades? Um homem assim afirma-se, sempre, no momento em que contraria aquilo que lhe é conveniente, no momento em que se distancia terminantemente daquilo que lhe é esperado. É-lhe preferível viver como um caloteiro ou, antes, é-lhe preferível morrer a destruir-lhe o gênio pela conformação à normalidade.