Estou nos versos derradeiros de mais um voluminho de poemas. Nestes nove ou dez meses de trabalho; observo com prazer que me não sentei à mesa senão com motivação semelhante à de um Vigny, de um Antero, de um Leopardi. E disto resultou que os versos, todos eles, saíram-me carregados, desprovidos totalmente daquela “graça” de que falava Goethe. Ou, ao menos, é assim que me parece. Creio improvável, senão impossível, que algum dia me submeta ao trabalho extremamente fatigante de caçar palavras para produzir essa “graça” que tanto deleita. Ainda que me caia na conta bancária uma bênção, ainda que eu esteja no melhor de meus humores, opera algo como que automatizado pelo hábito: psicologicamente, o sentar-me para compor versos cumpre uma sequência quase religiosa que preenche-me a mente de uma seriedade que repugna o fútil, o leve, o “gracioso”. Se é para fazer versos, que saiam como o espelho do estado de alma de alguém que encara-os como a última oportunidade de expressar-lhe o que pulsa mais forte. Que saiam perturbados, complexos, desagradáveis! E que jamais deixem parecer que aquele que os compôs estava a se divertir…