São indescritíveis estes momentos em que a mente deflagra semanas de trabalho criativo num único rompante. É incrível como as ideias brilham com clareza e vão se amontoando rapidamente em frases, que se tornam páginas, até um ponto em que cessam não por se haverem esgotado, mas para que os olhos possam admirar, incrédulos, o quão produtiva foi a sessão de trabalho. Tudo impressiona, desde a espontaneidade à abundância da manifestação, que se dá sem que o espírito pareça se esforçar como de hábito, e consequentemente se dá e não gera cansaço. Alguns artistas já disseram que tal experiência assemelha-se a um estado de semilucidez, em que como uma força alheia ao próprio controle parece fazer o trabalho. Talvez semilucidez não seja o termo mais apropriado, visto que em tais momentos dá-se uma sensação pulsante de epifania, e a mente parece lúcida e límpida como nunca esteve. E então, por raros que são, é aproveitá-los ao máximo, alegrando-se por quanto durem e sabendo que nem sempre eles estarão à disposição…