É sobretudo estéril essa crítica…

É sobretudo estéril essa crítica que não consegue analisar um verso sem associá-lo a um “movimento”, como se o autor, ao compô-lo, não pensasse senão em adequá-lo a uma “corrente”, em apoiá-lo num amontoado de chavões distintivos de uma “estirpe”. Quantos grandes poetas o fizeram? É sintomática essa recusa em enxergar o indivíduo, ou melhor, essa insistência em querer enxergar uma artificial mentalidade coletiva, na maioria dos casos não apenas inexistente, mas impossível. Às vezes, para evitar este ridículo, parece que o melhor seria não recorrer jamais a semelhantes classificações…

Nada há de mais maçante, ao leitor moderno…

Nada há de mais maçante, ao leitor moderno, habitante da metrópole cinzenta, que a tal poesia pastoril. É impossível, para ele, prosseguir além de umas poucas páginas neste gênero poético que não é capaz de suscitar-lhe absolutamente nada. Tal ocorre, em primeiro lugar, por ser o leitor moderno carente da experiência de harmonia para com o meio, indispensável para que se possa abrir um poema pastoril. Tendo sido, desde o nascimento, bombardeado com a agressão visual que é uma metrópole; tendo sempre associado o ambiente comum ao perigo, à possibilidade de um assalto repentino, à sensação de desconforto, insegurança e medo, não poderá ele jamais compreender como pode alguém extrair satisfação do meio. Mas além disso: toda a sua existência foi moldada num ritmo completamente distinto daquele do poeta habituado ao campo, de tal forma que, entre estes, há tão poucas semelhanças psicológicas e comportamentais que se lhes pode dizer definitivamente estranhos.

O cristianismo é a principal barreira ao coletivismo

Foram pouquíssimos a enxergar que consistiria o cristianismo na principal barreira a impedir que o ocidente fosse totalmente dominado pelas ideias coletivistas que floresceram no último século. Nestes dias, perdura uma guerra que já estaria perdida, não fosse a honrosa resistência cristã. O lance histórico já é patente, e demasiado interessante para ser ignorado: após décadas de insultos e perda de prestígio, só o cristianismo parece ter firmado laços fortes o suficiente para suplantar esta praga chamada comunismo. Quem diria! Num mundo laico, justamente a religião a salvá-lo da opressão totalitária que permitiu progredisse a níveis inéditos. Os historiadores terão de fazer justiça, caso livre-se o ocidente da desgraça e da miséria que o ameaça, e creditar ao cristianismo as honras de evitar aqueles que seriam talvez os mais infames e mais sombrios capítulos da dignidade humana.

Vigny e eu

Muito do que Vigny diz de si mesmo eu poderia atribuir a mim sem alterar uma vírgula. Tenho, como Vigny, esse “besoin éternel
d’organisation”, sem o qual não me movo; sou, como ele, “seul”, “exempt de tout fanatisme”; também a mim a vida cuidou dotar-me desta “sévérité froide et un peu sombre” que não é inata; quanto ao método criativo, identicamente concebo, planejo, moldo e deixo esfriar antes da execução final; poderia também dizer com toda a minha alma que “l’indépendance fut toujours mon désir”; compartilho, ainda, a repugnância de Vigny às futilidades, fruto de alguém que, estando “toujours en conversation avec moi-même”, encontra no estorvo das interrupções sempre motivo para frustrações… e a lista poderia continuar. Vigny, contudo, faz a nota: “Aimer, inventer, admirer, voilà ma vie”. Ah, Monsieur! Lamentavelmente, estas vossas palavras já não posso subscrever… Não faz mal: Deus me deu o senso de humor.