Algo absolutamente impossível para um homem de outros tempos seria compreender o que se passa no peito, nas veias e na mente da esmagadora maioria dos homens modernos quando o calendário declara ser sexta-feira. Sexta-feira! Maravilhosa sexta-feira, em que o sol raia prenunciando a alforria de milhões de almas! E o homem moderno, banhado desta bênção magnífica, sente-se tomado de uma euforia emocionante e indescritível. Uma vez por semana, experimenta uma efusão tão forte que homens de outros tempos talvez passassem a vida inteira sem sentir qualquer coisa semelhante. Lágrimas, júbilo, berros e gratidão aos céus! Sorriso no rosto e o peito querendo explodir! Na quinta nunca há esperança, é como se o escravo já estivesse há longos e exaustivos anos trabalhando fatigado, infeliz, abatido, e ciente de que assim teria de passar o restante de sua vida medíocre e frustrante. Então a sexta-feira! sempre inesperada sexta-feira! a prova cabal de que Deus existe e a vida não é assim tão má! Em hipótese alguma um homem de outros tempos seria capaz de compreendê-lo — e, provavelmente, também não compreenderão os do futuro, posto o mundo laico já não necessite das mordomias de um calendário cristão…
Sexta-feira!
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