Saltamos da teoria poética inglesa para a portuguesa e observamos um contraste. Em inglês, valoriza-se a regularidade rítmica, quando parece teóricos portugueses concordarem que a variedade confere dinamismo aos poemas e, portanto, é preferível, para evitar a “monotonia”. O curioso é não suspeitarem estes últimos que não há ritmo sem regularidade e acabarem, fatalmente, elogiando o ritmo de poemas que não têm. Qualquer frase proferida em qualquer língua terá uma entonação, ou uma “cadência” própria quando analisada individualmente. A poesia, porém, dispõe frases de maneira que entre elas haja um elo harmônico, elo este determinado pelo ritmo. Se, de um verso para o outro, altera-se tudo, não pode haver ritmo na composição, a menos que se faça um uso criativo e não musical desta palavra.
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Novamente o “bloqueio criativo”
Causa riso a falta de criatividade destes roteiristas que, ao representar um escritor, precisam obrigatoriamente descrever um período em que ele experimenta o tão falado, tão romantizado e tão ridículo “bloqueio criativo”. Todos os profissionais de todas as áreas possuem processos, possuem método, possuem uma sistemática de trabalho que os permite obter resultados a despeito de oscilações de humor, de ânimo e de criatividade; exceto, é claro, esta besta do escritor, que insiste em sentar-se diariamente diante de uma tela branca, sem ter absolutamente nada planejado. É lamentável dizê-lo mas, infelizmente, esse tal “bloqueio criativo” simplesmente não existe para escritores profissionais. Sentar-se diante de uma tela branca é somente amadorismo; e o escritor profissional que o faça não faz senão agir como amador. Não é preciso muita experiência para perceber que o processo de ideação de enredos, capítulos e poemas pode ser executado em grande parte longe da mesa de trabalho, relaxadamente, em ambiente por vezes mais propício para a criação. Não é preciso muita experiência, também, para perceber ser mais fácil executar um plano que planejar do zero e, em seguida, executar o planejado. Não, não… é preciso continuar representando o escritor como uma besta, que teima em sentar-se diariamente para resolver todos os problemas de uma só vez, o escritor que se senta e aguarda que desça do céu um anjo e lhe guie a mão… Que piada!
Fazer bons versos é difícil
O poeta moderno, adepto das práticas…
O poeta moderno, adepto das práticas em voga de exterminar a pontuação dos versos, alterar grafias, ignorar maiúsculas, desenhar com letras, repetir palavras exaustivamente, etc., etc. tem de concentrar-se muito para não se passar por uma criança ou, em casos mais graves, por um retardado mental. Como pouquíssimas páginas bastam para enjoar de tais artifícios! Depois, ficamos a perguntar: e que mais? Frequentemente, temos de concluir que não passam eles de disfarces para uma incapacidade de se trabalhar palavras de maneira dinâmica e interessante, mostrando domínio e valendo-se criativamente dos recursos que oferecem o idioma. Acabamos por refletir naquilo que tanto repetem os latinistas, e parece mesmo a inteligência estar relacionada à habilidade na articulação da linguagem…