Não importa o quanto se idealize o estilo e a forma…

Não importa o quanto se idealize o estilo e a forma, ambos carecem da execução para solidificarem e alcançarem uma unidade autêntica. Executada, ou melhor, durante a tentativa de execução, a ideia torna-se mais clara e o artista evolve-a até que ela se lhe encaixe na intenção expressiva. Os lampejos espontâneos que surgem no ato de realização artística, embora não sirvam de alicerce, são frequentemente quanto abrilhanta e faz com que uma obra mereça o adjunto de arte.

Quem mira grandes empresas, tem de começar pelas pequenas

Quem mira grandes empresas, tem de começar pelas pequenas. Só assim poderá se preparar para aquilo que almeja. O planejar acarreta esta vantagem: evidencia, de antemão, as dificuldades, apontando também o caminho a se percorrer. Em literatura, faz bem o candidato a romancista especializando-se, primeiro, em construções menores, autônomas e que encerrem arcos dramáticos simplificados. Pequenas unidades, temática direta, singeleza estrutural. Na cabeça, a despretensão característica daquele que sabe-se aprendendo, que sabe-se no início de um longo processo. Assim chega, com o tempo, o traquejo no trabalho da velocidade, na representação de estados de alma diversos e na impressão de efeitos dramáticos potentes. Chega após muitos testes, muitas falhas e muitas lições. Para se preparar a grandes empresas, é prudente o esforço contínuo pela eliminação da sorte.

Modelos e identificação

Tenho modelos; modelos escolhidos conscientemente e incorporados à força em minha literatura; modelos que representam, segundo o meu juízo, o que há de esteticamente melhor em todos os gêneros. Mas um modelo é, se muito, uma inspiração, uma influência para uma criação diferente. Não consigo sequer imaginar a sensação de alguém como Baudelaire, que encontrou a própria teoria estética descrita por Poe. Como é possível? Talvez seja, aqui como em tudo, uma questão de sentir algum pertencimento, ser ou não capaz de experimentar uma identificação plena — uma questão, em suma, psicológico-existencial.

O artista deve empregar todos os meios de que dispõe…

Já disseram — Pessoa? — que o artista deve empregar todos os meios de que dispõe para dar luz à própria obra. Do contrário, as dificuldades não serão vencidas e, provavelmente, ela não sairá. É mister que o artista construa um ambiente propício, molde-lhe a vida em redor do objetivo central; que tenha um horário diário reservado à obra, horário que represente o cerne da rotina e ao qual chegue, todos os dias, em sua melhor disposição. Isso por anos a fio, por quanto lhe durar a existência — sempre ciente, como o era o próprio Pessoa, de habitar o presente pertencendo integralmente ao futuro.