O ser humano vive em estado vegetativo

Creio ter sido Hegel quem disse que “aprende-se da história que o homem nunca aprende com ela”. Verdade inquestionável. Porém apenas o sintoma de um problema maior. O ser humano vive em estado vegetativo, ainda que, por vezes, aparente o contrário. Não é somente as lições da história que ele se mostra incapaz de apreender, mas a própria realidade. Racionalmente, viver parece uma impossibilidade. Se o ser humano raciocinasse e usasse do juízo que cuida dispor para assimilar a própria existência, punha-se imediatamente no meio-fio a chorar. Mas não é o que acontece. É necessário que um amigo próximo, que um familiar morra para que o sujeito desperte do estado vegetativo e raciocine algo como “poderia ter sido eu”. Entretanto, o surto é fugaz: a consciência desperta e, imediatamente depois, põe-se mais uma vez em sono pesado. Então o ser torna ao estado que lhe é habitual, em evidência do caráter vicioso do próprio juízo. É incrível! Parece ser esse um mecanismo psicológico adaptativo, quer dizer, se não mergulhado em profunda inconsciência, quem moveria uma única palha? Construiriam o Titanic, soubessem-lhe o fim? E da vida o fim está claríssimo… Mas já estamos divagando. “Aprende-se da história que o homem não aprende com ela”: o homem, o ser que ignora tudo, o cego sorridente. E parece a mesma programação mental que exige a dormência justificar desde a estupidez individual até a tolice coletiva de um mundo que, há mais de meio século, não enfrenta uma grande guerra…

O “importante” constantemente muda de face

Os anos correm e o “importante” constantemente muda de face. O imprescindível, no passado, torna-se irrelevante. E a vida parece operar um lento movimento de redução da realidade, como que se atendo ao essencial. Se avultam os anos, parece escassear o que antes aparentava abundância. Possibilidades, sonhos, relações… tudo parece dissipar-se lentamente, evidenciando talvez o que fica, ou talvez que a realidade está condenada à volatização…

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São os humoristas quem melhor afagam a dor humana

Mais do que qualquer entidade filantrópica, são os humoristas quem melhor afagam a dor humana. E a justificativa é simples: o riso é remédio eficaz, barato e inesgotável. Humoristas, se bons, ensinam a rir das piores misérias, consolam diante do terrível, entregam prazer quando parece impossível. Humoristas desvendam o óbvio: na vida, absolutamente tudo é passível de piada — e as melhores brotam exatamente de onde nos parece absurdo extraí-las. Ademais, atacam a víbora que nenhuma entidade filantrópica é capaz de combater: a vaidade. Por isso, entristece vê-los trabalhando quase sempre alvejados por pedras, não raro acabando destruídos pela massa de idiotas incapazes de enxergar a dimensão do próprio ridículo. Mas não é novidade: os grandes quase sempre acabam alvo da fúria dos imbecis. Pois avante, ídolos, benfeitores da humanidade! E vosso riso perdurará quando as mãos que vos atacam já se tiverem convertido, inertes, em pó!

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Toda intenção que exige a ação de um terceiro é má

Toda intenção que exige a ação de um terceiro é má. Todo discurso sequioso da aprovação é daninho. Pois a intenção só virtuosa se acarreta uma ação individual e a palavra só profícua se autossuficiente. Num mundo em que essas verdades são absolutamente incompreendidas, é natural que a vida social seja desagradável, senão insuportável. Maioria, consenso, aceitação, esses e outros vocábulos do inferno só contribuem para tornar o ser humano progressivamente medíocre. A dignidade do homem brota da consciência da individualidade e o respeito só é possível no ser que aprende a valorizar o diferente, ao invés de subjugá-lo sempre às próprias e desprezíveis opiniões.

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