Os fundamentos racionais do senso comum

Talvez a mais importante e necessária função da filosofia seja assentar os fundamentos racionais do senso comum. É preciso, de novo e de novo, percorrer os mesmos caminhos e repetir os mesmos argumentos milenares em favor da sensatez; do contrário, quão facilmente ela se dispersa! e quão lamentáveis consequências se sucedem desse dispersar! De fato, tem razão Edward Feser: todos os males morais de que padece a modernidade remontam ao distanciamento de Aristóteles, de Platão, de Aquino e dos demais pensadores que, por muitos séculos, constituíram a base do pensamento ocidental.

A hipocrisia é a substância da moral pública

Já é corriqueira a assertiva de que a hipocrisia é a substância da moral pública, e que, sem ela, são impossíveis as relações sociais. Justo, embora não pela consequente impressão de que deve-se tolerá-la integralmente. Há um limite, como há hipocrisias. A hipocrisia, tal como a mentira, só se justifica quando evita que se atravesse a fronteira da educação. No mais, o que faz é diferenciar homens de canalhas, e não se pode admiti-la sem que também se admita o naufrágio completo do próprio valor.

O moralismo é imprescindível

Os moralistas são, de fato, imprescindíveis para qualquer estudante sério, tal como o moralismo é imprescindível para a justa compreensão do homem. Sem ele, cai-se em incontáveis armadilhas, e erra-se sempre na valoração que se faz de espíritos e obras. Rousseau não pode ser compreendido através de seu infame Du contrat social, ou através daquela que, segundo ele mesmo, é sua obra mais importante. Compreende-se Rousseau somente quando se confronta este Émile com a nota biográfica que carece a maioria das edições: o autor que escreveu um volume de oitocentas páginas ensinando como devem os outros educar seus filhos mandou os cinco que teve para um orfanato.

Aquele que quer ensinar

Aquele que tem algo a ensinar e quer ensinar precisa compreender que, para efetivar seu desejo, é necessário que haja, também, alguém que queira aprender. É este um fato: o melhor professor não é capaz de suplantar algumas das barreiras possíveis de serem levantadas por um mau aluno; já o bom aluno, este consegue aprender algo mesmo do pior professor. Disso se percebe que o aprendizado, em suma, é dependente mais do aluno que do professor, limitando-se este a facilitar ou dificultar o aprendizado, estimular ou desestimular. Assim é, não importando quão grande seja a vontade ou o conhecimento do professor.