O maior incentivo à fecundidade

Talvez o maior incentivo à fecundidade literária seja o viver silenciosamente, evitando ao máximo jogar ao vento palavras que seriam muito melhor empregadas no papel. Ao vento, somente o trivial e de pouca importância. São inumeráveis as vantagens de tal postura, que contribui tanto à vida quanto à obra, deixando claríssimo aquilo que cabe a uma e a outra, separando-as e definindo-as, reforçando-as no como devem ser encaradas. Evita-se sobretudo o erro de tê-las pelo que não são, desvirtuando-as. Viver em silêncio, em suma, é saber o momento e o meio adequados para se dizer aquilo que se deve dizer.

O intelectual morre no instante…

O intelectual morre no instante em que perde aquela curiosidade característica do jovem estudante, sedento por aprender. Não se baseia em outra coisa a própria atividade intelectual, que exige esforço permanente, entusiasmo pelo desconhecido e vontade de investigá-lo e apreendê-lo. É por isso que, a despeito de quanto lhe suceda, o intelectual não poderá jamais permitir que se apague esta chama, do contrário, juntamente dela se apagará.

É curioso observar que há faixas etárias…

É curioso observar que há faixas etárias que, devido à cumulação da experiência, propiciam, com enorme frequência, movimentos decisivos de teor semelhante. Precede a vida propriamente adulta uma decisão que corrobore ou rompa de vez com as aspirações da adolescência; a meia-idade reforça tal decisão ou, em casos nos quais foi esta postergada, oprime violentamente em razão da covardia do adiamento; já a velhice chega com a possibilidade única da síntese ou, no mínimo, com a última possibilidade de afirmação por caminhos não trilhados. E nota-se, repetidamente, que tais arcabouços, amparados em similares classes de vivência, produzem resultados também similares em teor, embora individualizados a depender das rotas palmilhadas. O fator idade, portanto, mostra-se fundamental e sobremaneira instrutivo na análise do homem.

Algo além da mera conveniência

Toda profissão exige, a partir de um certo momento, algo além da mera conveniência para que seja bem exercida. Tal ocorre de praxe quando a novidade desaparece da rotina, tornando-se esta a execução de tarefas já executadas na véspera. Então, caso não haja um motivador para além daquilo que se aufere por executá-las, caso não se extraia alguma satisfação no próprio exercício diário, o ofício torna-se insuportável, o exercê-lo torna-se enfadonho, angustioso, torturante. Assim que parece ao insatisfeito ter de escolher, de duas, uma: abandoná-lo ou sucumbir. Não se pode, pois, dar outro conselho senão o de que uma profissão deve ser escolhida tendo em vista sobretudo a satisfação que dela se pode extrair: no fim, tudo o mais que dela se poderá obter estará atrelado à existência dessa possibilidade, ou não.