Na arena do pensamento, quando nasce uma nova ideia, ainda que não seja senão uma nova roupagem para uma ideia antiga, é certo que, mais cedo ou mais tarde, brotará também a sua antítese, a qual haverá de se disseminar com uma força proporcional. A precisão desta regra parece apontar-nos para o caráter cíclico do pensamento humano: um ciclo, porém, que não se resume a um círculo fechado de eventos que se repetem, mas, através de um movimento que parece avançar e retroceder, expandir e contrair, afirmar e negar, desenvolvendo-se numa série de etapas razoavelmente previsíveis, aumenta a própria complexidade e dá nuances novas à medida que o tempo avança. Um ciclo, pois, criativo, que exige as controvérsias para se desenvolver.
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Há uma ironia divertida quando se nota…
Há uma ironia divertida quando se nota que o resultado da tentativa de se impor uma visão cientificista do mundo como a única aceitável tenha resultado num aumento exponencial de todo tipo de doutrina anticientífica. Os últimos dois séculos reviveram tudo quanto já se inventou de misticismo de norte a sul do planeta. E se algum deles ainda não deu o sinal de renascimento vigoroso, é questão de tempo. Tais áreas experimentam agora um avanço inédito, algumas delas após séculos de adormecimento. Que isso quer dizer? O óbvio: a ciência é incapaz de dizer uma frase que alimente o anseio de sentido do homem. Quanto mais se quer soberana, quanto mais tenta se impor, mais escancara a própria impotência e estimula que as almas carentes de sentido vão buscá-lo noutras bandas. Não falta muito para que comece a despertar um riso generalizado; aí, talvez, lembre-se do seu verdadeiro valor.
Os totalitarismos não são ideologias políticas
Os totalitarismos não são ideologias políticas, mas conluios de psicopatas que objetivam um poder só alcançado mediante a destruição massiva da consciência. Por isso alvejam, acima de tudo e com máxima violência, a dignidade humana, aquilo por onde esta se manifesta e aquilo de que se alimenta. Destarte só passam numa sociedade corrompida, cujos indivíduos abdicaram completamente do próprio valor. A dignidade nunca hesitará entre o totalitarismo e a cadeia, entre aquele e o fuzilamento. Contudo, há de se notar que a ela, salvo em raros casos, não é concedido escolher entre essas opções. A dignidade o mais das vezes se esvai à medida que o totalitarismo avança, e este, ardiloso que é, o faz paulatinamente, através de pequenos espólios, pequenos desmandos, de forma que não dê a entender que vagarosamente se impõe. Um passo de cada vez e, a cada êxito, um novo passo adiante. Assim que, em verdade, é essa uma guerra travada pelo indivíduo em pequenas batalhas, pequenas escolhas, cujo único resultado que deveras lhe importa — aquele sobre o qual tem controle — é corromper-se ou não.
A manhã é o período mais importante
A manhã é o período mais importante do dia. Produtiva ou improdutiva, feliz ou infeliz, seus efeitos contagiam e se alastram pelas horas seguintes, evidência de que ganha-se um dia pela manhã. Por isso, é prudente que neste período cumpra-se a tarefa mais importante do dia, vencendo-a o quanto antes para que a tarde seja contagiada desta satisfação. Fazer o contrário é agir contra si mesmo: protelando-se o mais importante, gera-se ansiedade; cumpri-lo ao fim do dia é permitir que o cansaço da jornada, caso não estimule um novo adiamento, prejudique a sua execução. Duzentos outros motivos recomendam as primeiras horas do dia como período em que as atividades que exijam maior concentração devem ser executadas e, por isso, talvez o maior segredo de uma rotina estimulante e satisfatória consiste no bom emprego da manhã.