O indivíduo comum só tomaria consciência da importância dos valores e condições que lhe foram legados caso pudesse sentir, na carne, tudo quanto foi sofrido pelos seus antepassados. Algo, pois, impossível. Poucas palavras são, por exemplo, tão secas como “liberdade” quando pronunciada em países livres. A semântica esconde o volume de sangue derramado para conquistá-la e, para que cidadãos livres a compreendessem, seria preciso que vivenciassem a sua ausência. O mesmo se dá em muitos outros casos, e disso percebemos que, quando a história e a educação lhe são inúteis, é ridículo falar neste tal “progresso”.
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O conforto é estimulante da inércia
O conforto é estimulante da inércia, e do desconforto brota a necessidade de expressão. Tal é válido tanto a nível individual, como coletivo. Os grandes temas de todas as épocas são, exatamente, aquilo que mais as incomodava. E tão logo se afigura uma solução, seja pelo costume, seja pela mudança, notamo-lo pelo sumiço da temática na literatura. Aproximamo-nos do indivíduo e encontramos o mesmo: é precisamente do desconforto que nasce toda literatura autêntica. E se assim enxergamos, não há como deixar de mirar as dificuldades sob uma ótica inteiramente nova.
Não há tarefa mais ingrata que ensinar…
Não há tarefa mais ingrata que ensinar àquele que não deseja aprender. O aprendizado tem de partir de um desejo, motivado, por sua vez, na consciência de uma necessidade. Do contrário, frustram-se o professor e o aluno. Todo ensino se deveria afigurar como um ato de generosidade e, consequentemente, ser estimulante da gratidão. Assim teríamos um professor satisfeito pela obra e um aluno ciente da importância da educação. Este, futuramente, poderia encontrar no próprio ensino o pagamento da dívida que contraíra ou, noutras palavras, ensinaria para expressar-lhe a gratidão. Deste ciclo depende toda educação verdadeira, e por ele notamos que esta é, fundamentalmente, um problema moral.
Por mais que se critique simplificações…
Por mais que se critique simplificações como o maniqueísmo, o mundo prático permite, e por vezes exige tais simplificações. Quando a boa-fé e a má-fé se confrontam, é fundamental, antes de tudo, denunciá-las. Assim, quando se nota que a maioria das disputas ideológicas resumem-se àquele confronto primário, é preciso atirar para longe as ideologias e ater-se àquilo que, de tudo, é o mais importante; do contrário, entra-se no jogo ardiloso da má-fé.