Parece mesmo o riso consistir…

Parece mesmo o riso consistir na superior entre todas as manifestações últimas do espírito. Por isso, é válido e até necessário que haja um esforço consciente, em casos onde não se dê de forma espontânea, para que irrompa como uma vitória sobre tendências mais naturais e imediatas. A indignação e a tristeza são muitas vezes justificadas, mas jamais podem representar a superação das circunstâncias que as desencadearam. Se estimulam, é o máximo que podem fazer. A vitória sobre quaisquer circunstâncias implica um desprendimento que permite mirá-las e sorrir.

A originalidade alcança o reconhecimento…

Na arte e na filosofia, a originalidade alcança o reconhecimento mais rapidamente que o valor. Na filosofia, porém, parecem as ideias originais garantirem a longevidade, e quanto mais originais forem, mais seguramente a garantem. O fenômeno é curioso, porque ocorre a despeito do valor da ideia. Esta, se original e ainda que absurda, ainda que mil vezes refutada, parece merecer sempre a generosidade de uma citação. Já na arte, embora a originalidade faça barulho, desgasta-se invariavelmente com o tempo. Na arte, uma obra só perdura se, para além da originalidade, guardar alguma coisa de valor.

A mudança pode ser melhor compreendida…

A mudança pode ser melhor compreendida quando se pensa não em “mudança”, mas na morte de um estado para o nascimento de outro novo. Quando se muda, o que foi deixa de ser e dá lugar a algo diferente, quer melhor, quer pior. O estado anterior, porém, torna-se passado. Assim, é prudente ter cautela sempre que se pensa em mudar algo que agrada ou satisfaz. Mudar algo bom é destruí-lo, e nem sempre o resultado da mudança será capaz de satisfazer.

Despegar-se do mundo não significa anular…

Despegar-se do mundo não significa anular quaisquer expectativas mundanas, mas adotar uma postura impassível diante daquilo que sucede. Esperar que uma boa ação dê bons frutos é natural e até estimulante; planejar e agir conforme um planejamento na esperança de que este tenha êxito é, simultaneamente, valorizar o tempo e o próprio ser. Bem diferente é o caso daquele cuja expectativa não estimula nem dignifica o ato, e cujo existir resume-se a uma ânsia descontrolada que tem no mundo, e não no ato, os parâmetros para a própria realização.