Senão sempre, certamente hoje seria interessante que a filosofia retornasse aos primórdios como antídoto à própria deturpação. Para ensiná-la, seria melhor fingir que nada nunca foi escrito e expor conceitos como se o estivessem fazendo pela primeira vez. O professor, então, ensinaria ao ar livre com os alunos sentados em roda, e quando dissesse “ato”, mostraria precisamente o significado desta palavra, de forma que, para o resto da vida, os discípulos tivessem em mente o ato real presenciado, e não cedessem à tentação de aplicar tal palavra em um sentido que se descolasse daquele que o mestre fê-los presenciar. E assim para todas as palavras importantes. É sempre proveitoso garantir a ciência de uma realidade patente para a qual deve se voltar os olhos e sem a qual o raciocínio é um desperdício.
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O esvaziamento do sentido das palavras
É divertido observar que, nalguns filósofos, podemos presenciar o esvaziamento do sentido das palavras à medida que os lemos, ou melhor, as palavras, à medida que correm as páginas, deixam de significar aquilo que o dicionário define para cumprirem a função de conceitos subjetivos, que vão sendo trabalhados como se fossem brinquedos de um playground imaginário. Chega um momento em que presenciamos construções impossíveis caso as palavras fossem utilizadas no sentido que possuem, e aí percebemos, primeiro, que o filósofo as deturpou e, segundo, que sua filosofia nada tem a nos ensinar sobre o mundo real.
O pensamento filosófico, quando não se reduz…
De Farias Brito:
O pensamento filosófico, quando não se reduz a uma mera técnica mental, mas tende a aprofundar-se cada vez mais na intuição da realidade, transforma-se naturalmente naquilo que os antigos chamavam “sabedoria”, tipo de conhecimento que traz em si mesmo o gérmen de uma transformação do homem todo, análogo, senão idêntico, ao domínio da contemplação pura, em que o sujeito se funde com o objeto universal, origem de todas as coisas.
Com isso, o grande filósofo diz o óbvio: a filosofia, para que não seja vã, deve ter uma finalidade prática, isto é, deve concretizar-se através de uma transformação naquele que a adota. Por este simples preceito é possível medir a fecundidade e a autenticidade de uma filosofia. Se não somos capazes de diferenciar, pela conduta, o filósofo de outro homem qualquer, se não podemos enxergar claramente os efeitos práticos de seu pensamento, estamos diante de uma filosofia estéril que não merece muito de nossa atenção.
O Eclesiastes é eterno
O Eclesiastes é eterno por ter constatado não haver novos vícios, nem novas esperanças, que o que se fez será novamente feito, e nunca haverá algo que já não tenha sido: em suma, as circunstâncias são diferentes, mas o homem é sempre o mesmo, e cai sempre nas fraquezas do passado. É ilusória a impressão que se tem de mudança com o tempo, posto que esta se limita a aspectos exteriores de uma realidade permanente. O homem é sempre o homem, e dele não se pode esperar senão que seja aquilo que é.