É curioso observar que há faixas etárias que, devido à cumulação da experiência, propiciam, com enorme frequência, movimentos decisivos de teor semelhante. Precede a vida propriamente adulta uma decisão que corrobore ou rompa de vez com as aspirações da adolescência; a meia-idade reforça tal decisão ou, em casos nos quais foi esta postergada, oprime violentamente em razão da covardia do adiamento; já a velhice chega com a possibilidade única da síntese ou, no mínimo, com a última possibilidade de afirmação por caminhos não trilhados. E nota-se, repetidamente, que tais arcabouços, amparados em similares classes de vivência, produzem resultados também similares em teor, embora individualizados a depender das rotas palmilhadas. O fator idade, portanto, mostra-se fundamental e sobremaneira instrutivo na análise do homem.
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Algo além da mera conveniência
Toda profissão exige, a partir de um certo momento, algo além da mera conveniência para que seja bem exercida. Tal ocorre de praxe quando a novidade desaparece da rotina, tornando-se esta a execução de tarefas já executadas na véspera. Então, caso não haja um motivador para além daquilo que se aufere por executá-las, caso não se extraia alguma satisfação no próprio exercício diário, o ofício torna-se insuportável, o exercê-lo torna-se enfadonho, angustioso, torturante. Assim que parece ao insatisfeito ter de escolher, de duas, uma: abandoná-lo ou sucumbir. Não se pode, pois, dar outro conselho senão o de que uma profissão deve ser escolhida tendo em vista sobretudo a satisfação que dela se pode extrair: no fim, tudo o mais que dela se poderá obter estará atrelado à existência dessa possibilidade, ou não.
Diante do que não conhece…
Melhor faz aquele que, diante do que não conhece, cala-se em vez de duvidar. E se não sente confiança na percepção, e se realmente lhe interessa o objeto do desconhecimento atual, que estude, que escute e que, sobretudo, queira conhecer. E que assim permaneça por quanto tempo seja necessário, estudando, escutando e querendo. Um dia, talvez, conhecerá; e valorizará o conhecimento adquirido. Se, contudo, não vier a conhecer, ao menos se terá mantido numa postura que o jamais poderá envergonhar.
Toda filosofia que aposte na individualidade…
Toda filosofia que aposte na individualidade correrá o risco de ser desvirtuada pelas massas. A filosofia que, como a de Nietzsche, estimula o indivíduo a afirmar-se, concretizando a própria vontade no curso de uma vida, exige um leitor individualizado e rejeita veementemente a generalização. Uma filosofia assim pressupõe a consciência da própria unicidade e a existência de uma motivação fundamental e intransferível, sem a qual fica o ato injustificado e com a qual pode-se quase tudo. Não se pode exigi-lo do homem comum…