É sempre belo dedicar-se a causas perdidas

É sempre belo dedicar-se a causas perdidas, mas é pouco inteligente permitir-se fritar os nervos por elas. Dedicar-se e nada esperar em troca; dedicar-se a despeito do fracasso inevitável: isso basta. E no mais, deixar que as coisas corram como devem correr, não se preocupando senão como se preocupa com o dia nascer chuvoso ou ensolarado. Fazer o digno e reconfortar-se na consciência; e o resto, que seja como tiver de ser…

Temas essenciais

É melhor a filosofia que, em vez de estender-se indefinidamente em novas temáticas, ande como em círculos, enriquecendo-se à medida que confere novas formas e novas nuances para uma meia dúzia de temas essenciais. Todo o resto não parece senão um distanciamento destes, e consequentemente um direcionar a atenção para questões cada vez menos importantes, até um ponto em que a reflexão perde o sentido e dá-se pelo simples prazer de refletir. Aqui, o verdadeiro filósofo estará morto.

Apesar do pessimismo…

O pessimismo é justificável; o que não parece sensato é, apesar do pessimismo, permitir-se viver uma vida cujos dias não sejam tomados de entusiasmo. Danem-se as circunstâncias! Se não por usufruí-las, que haja motivação para transformá-las! Que haja no acordar pelo menos uma oportunidade, e no fracasso da véspera uma lição. Se é para viver, que seja com ânimo e energia! O homem que, sentado sobre a própria racionalidade, negar-se esse mínimo, fará mais e melhor pela honra deixando de ser.

Uma ilusão, sempre que destruída…

Uma ilusão, sempre que destruída, origina um insulto. É por isso que o pessimismo, exterminador de ilusões por excelência, foi e será sempre insultado. Uma pessoa normal não pode defrontá-lo sem revolta, sem que se sinta agredida e injustamente espoliada. E não pode deixar de taxá-lo não como desagradável, mas como criminoso. Se não consegue refutá-lo com a lógica, que seja com a violência! Todo pessimista tem de estar ciente do efeito destrutivo de suas palavras e da reação que, em maior ou menor medida, naturalmente provocará. E então deve medir o quão forte é-lhe a necessidade de expressar-se perante as represálias que sofrerá. Racionalmente, é provável que conclua ser a primeira desnecessária; mas será infeliz se julgar-se obrigado a pagar nesta vida a dívida que contraiu com os inimigos das multidões.