Filósofos antigos…

Linhas de Chamfort:

Ce que j’admire dans les anciens philosophes, c’est le désir de conformer leurs moeurs à leurs écrits : c’est ce que l’on remarque dans Platon, Théophraste et plusieurs autres. La morale-pratique était si bien la partie essentielle de leur philosophie, que plusieurs furent mis à la tête des écoles, sans avoir rien écrit : tels que Xénocrate, Polémon, Xentippe, etc. Socrate, sans avoir donné un seul ouvrage et sans avoir étudié aucune autre science que la morale, n’en fut pas moins le premier philosophe de son siècle.

Ah, filósofos antigos! Chamfort muito lamentaria notasse o rompimento completo com a realidade que, se os não extinguiu no ocidente, dificultou-lhes sobremodo a aparição. Com a “moral prática”, faz hoje a filosofia o que faz com todos os outros temas: transforma-a em abstração; malbarata-a como alicerce de uma construção lógica apartada do concreto. É, em verdade, o movimento inverso. Por isso, nem ao erro poder-se-ia atribuí-lo, o que se deu foi um desvio absoluto de finalidade. O désir de que fala Chamfort já não pulsa nos ditos filósofos ocidentais que, certamente, jamais veriam num Sócrates um semelhante.

Levar a vida demasiado a sério

Diz Chamfort:

Le théâtre tragique a le grand inconvénient moral de mettre trop d’importance à la vie et à la mort.

É verdade… Não há negar que o levar a vida demasiado a sério traz inúmeros inconvenientes, a começar pela angústia inevitável. Dando muita importância à vida e à morte e percebendo que ambas, em grande medida, escapam-lhe ao controle, o espírito experimentará o desespero. Porém, algo se há de notar: o realce é necessário para que o teatro comova; a mensagem de uma peça jamais terá o mesmo efeito se desprovida do exagero dramático. Para dizer como Nelson: a ficção, para que purifique, precisa ser atroz. Mas, talvez, sejam estes inconvenientes necessários não só ao teatro, como à própria vida, posto que em completa indiferença o homem permanecerá, sempre, exatamente onde está.

O cérebro humano sempre acaba humilhado

O cérebro humano sempre acaba humilhado quando cede à tentação irresistível de ordenar o irracional. Seria muito mais fácil se o aceitasse em suas ilimitadas manifestações, e assumisse para si mesmo os próprios limites. Não se pode concatenar o espontâneo, o inédito, o excepcional sem que se corra um risco imenso de cair no ridículo. O erro é fruto da presunção. Se a razão exige respostas, carece de lógica, deve contentar-se o mais das vezes com o processo mesmo de análise, com o simples reduzir os possíveis enganos através da observação atenta, e evitar, quanto possível, o julgamento precipitado. O irracional existe, impõe-se, e não dá a mínima para suas considerações.

É de uma audácia formidável o dinheiro…

É de uma audácia formidável o dinheiro ter invadido o terreno da filosofia da forma que o fez. Nestes dias, qualquer tratado sobre a liberdade individual que se preze deve dedicar umas boas páginas a este tema tão terreno e tão desagradável. É como se um imenso balde de terra tivesse sido jogado em cima de um manancial de concepções idealistas. Não parece que seria hoje possível viver como viveram muitos ascetas de tempos passados; isto é, é improvável que, hoje, aqueles não seriam submetidos a uma necessária escravidão. É certo que a falta de dinheiro limita a liberdade, e não é preciso ser materialista para aceitar a hipótese de que, sim, também o dinheiro pode aumentá-la. Mas que pode fazer o dinheiro pela liberdade do homem? A partir de que ponto é supérfluo? Se o homem comum, forçosamente, tem de tomar parte na cultura do money-making, é justo que determine o quanto e até quando deve se afundar. Portanto, aí está um importante objeto para a ética…