Leio místicos com verdadeiro prazer. Místicos: homens que proclamam ver o que não vejo, que argumentam com aquilo que não posso comprovar. E prazer, é claro, por saber-me eliminando até o último vestígio a presunção ignorante que caracteriza o homem deste século responsável por moldar-me. Alegra-me constatar que possa haver outros com faculdades que não possuo, que não represento o modelo humano em plenitude de capacidades. Lê-los, a mim, é sempre uma lição de humildade.
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A fama nunca deixa de acorrentar e corromper
É desolador constatar que a fama nunca deixa de acorrentar e corromper. Exceções são raríssimas. E a consequência disso é que o sucesso, ainda que merecido, chega para destruir. Vasculha-se o passado e se lhe descobre a carência de ídolos autênticos, ídolos que, ascendendo, mantiveram-se fiéis a si mesmos. E assim encerram biografias descrevendo rascunhos lamentáveis de personalidades que se permitiram ofuscar.
Viver é crer na mentira
“L’arte de vivere è l’arte di saper credere alle menzogne” — diz, com acerto, Cesare Pavese. Para agir, é necessário crer; não há vida sem esperança, sem ao menos uma ínfima expectativa, um mínimo brilhar de olhos que, ao acordar, espera o hoje melhor que o ontem. O homem deixa-se iludir por necessidade psicológica; ilusões são alimento para uma mente programada para acreditar. É por isso que a análise do ser humano passa necessariamente pela investigação do irracional.
A realidade reduzida à miséria
Viktor Frankl, atirado num campo de concentração nazista, viu-lhe a realidade reduzida à miséria mais plena. Racionalmente, embora com frieza quase sobre-humana, e embora por uma questão de sobrevivência, por uma urgente necessidade de preservar a sanidade mental, propôs-se a mirar a própria desgraça com as lentes de um cientista. Isolou-se-lhe a mente numa bolha intelectual fictícia e fez da destruição física, psicológica e moral o objeto de suas investigações. É, resguardadas as proporções, o que deve fazer todo investigador sério da vida.