O momento em que o destino faz o seu chamado

Ainda que seja incômodo assumi-lo, — e mais ainda justificá-lo, — parece haver, na biografia de todo grande homem, um momento em que o destino faz o seu chamado e, de praxe, porquanto falamos de grandes homens, estes cumprem o seu papel. É sempre possível identificar a circunstância emblemática cuja resposta — o ato — resulta na concretização da personalidade. Pode-se, ainda, adicionar que tal circunstância configura o ápice de uma biografia, o ponto onde a individualidade se afirma e se distingue e, já que falamos de destino, a própria sorte é definida. A história oferece-nos inumeráveis evidências para essa desagradável constatação que parece nos sugerir que a grandeza de seus personagens limita-se a aceitar, conscientemente ou não, o destino que lhes é reservado. Oh, nota!…

A constatação da fragilidade da vida

O cérebro humano, máquina programada para buscar e identificar padrões, — mesmo onde os não há, — só coagido admite as conclusões provenientes da constatação da fragilidade da vida. Parece-lhe antinatural ter como determinante e presumível aquilo que, num átimo, transforma bruscamente a realidade. A falsa lentidão do tempo o ilude, a morosa mudança de estados parece-lhe conduzir a um fim inexistente — e a máquina, assim, dá luz a juízos errôneos sobre a existência. A dinâmica imprevisível da vida aparenta querer forçá-lo a aceitar que nem tudo resume-se a uma relação de causa e efeito; mas, para ele, o fazê-lo é confessar a própria fraqueza e sucumbir ao irracional.

Especulações metafísicas

Dizem os teosofistas, para meu divertimento, que é dada ao homem a liberdade de escolher o seu local de nascimento. Minha mente voa… Pouco interessa a veracidade desta curiosa revelação: o divertido é raciocinar sobre a hipótese. Imagino-me, diante de uma entidade suprema, apontando, no mapa do mundo, a cidade em que nasci. Infinitas opções e, por volição simples, escolho uma cidade do interior de São Paulo — cidade de que não me resta uma única e solitária lembrança. Quero crer que a entidade tenha me apresentado outras bandas, exposto desde seus aspectos geográficos até culturais e que, mesmo assim, eu tenha escolhido nascer onde nasci. A pergunta seguinte é: por quê? Parece-me razoável uma única justificativa: meu orgulho — e corrijam-me os teósofos se são possíveis manifestações do orgulho nestas esferas da existência — deve ter pensado em algo como: “provarei ser capaz de desenvolver-me num ambiente hostil à minha natureza”. Muito bem! Será mesmo que, entre todas as possibilidades, eu e minha mente analítica, após meditação longa e cautelosa, tenhamos julgado esta a mais interessante? Ou talvez, se é vero o que dizem os teósofos de nascermos e renascermos numerosas vezes, eu tenha enjoado de praias paradisíacas, arquiteturas variadas, altos IDHs e todo o resto? Não, não, “enjoar”, não… Que concluir?

O futuro é uma hipótese

O futuro é uma hipótese; concretamente, não existe e nunca existirá. Entendê-lo é orientar-se. As possibilidades abrem-se ao homem num lapso fugaz e exigem, continuamente, ação imediata para se concretizarem, até o dia em que se fecham todas e para sempre. Medita, e aponta o pensamento o melhor caminho: em seguida, é agir ou anular-se na inutilidade.