O que mais irrita no agnosticismo

O que mais irrita no agnosticismo ou, melhor dizendo, no agnóstico, é a presunção de julgar-se um modelo humano na plenitude de suas potencialidades. Isso, é claro, é o que aponta o óbvio. Se diz o agnóstico que determinadas questões metafísicas ou religiosas são incognoscíveis ao espírito humano, subentende-se que ele conheça-o em seu grau supremo de evolução. Jamais lhe dá na cabeça a possibilidade de haver seres humanos com faculdades que ele mesmo não possui, ou evoluídas em graus superiores aos seus. Em vez de dizer: “Eu não sou capaz de compreender a metafísica”, diz: “O homem não é capaz de compreendê-la”. É a imodéstia e estreiteza de visão típicas dos espíritos inferiores…

Reticências…

Não importa quão grande seja-me o respeito pelo autor ou quão alta seja a elevação de espírito que uma obra dissertativa produza em mim, nunca experimento a sensação de estar diante da revelação de uma verdade. Seria um vício? um ceticismo exagerado e contraproducente? Ou acaso uma limitação perceptiva? É verdade que o estudo da metafísica alça a mente a um plano muito mais interessante do que o plano da chamada realidade sensível; mas de que adianta, para uma mente incapaz de aceitar fórmulas e contrária à afirmação? Reticências…

“I will not die today”…

Novamente, de Tsongkhapa:

Although we all have the thought that at the end of our life will come our death, each day we think, “I will not die today” and “Today too I will not die.” In this way, right up to when we are about to die, our mind holds on to the idea that we are not going to die.

If you do not take to heart an antidote to this, if your mind is obscured by such an idea and you think that you will remain in this life, then you will keep thinking about ways of achieving happiness and eliminating suffering in this life only, thinking, “I need such and such…”

Desprovido da percepção da morte, viciado em julgar que nunca morrerá, o ser humano priva-se da própria essência, impede que floresça em si a noção do mais importante. Distrai-se em futilidades perecíveis, desperdiça o próprio tempo iludindo o espírito. Se por um instante compreende a verdadeira natureza da morte, já não poderá viver como antes, já não aceitará perder-se imerso em banalidades mundanas e exigirá, ainda que a custo da própria vida, uma razão que lhe justifique a realidade. Posto haja a morte, posto a morte aniquile o corpo, force uma separação terminante de posses e relações, que sobra? Há algo que sobra? Buscando respostas, o ser transforma-lhe a conduta e cancela a perigosa noção de “I will not die today”, passando à obsessão: “Se eu morrer hoje… e então?”.

Os textos orientais antigos e a psicologia moderna

Causa assombro confrontar os textos orientais antigos com a psicologia moderna, constatando o lapso de mais de vinte séculos e a noção difusa de que esta última revolucionou a compreensão do homem. A psicologia moderna — científica, materialista — limita-se a analisar uma dimensão reduzida do homem, e se lhe resumirmos as façanhas, diremos que foi ela responsável por criar e disseminar a ideia de um modelo humano inferior. Nos textos orientais, tão antigos, — e sabe-se lá de quando data a tradição, — a psicologia humana se apresenta numa complexidade que escapa à psicologia moderna: o homem é pintado com uma dimensão muito maior. Tudo isso por uma razão simplíssima: os textos orientais antigos foram escritos por sábios que tomavam seus mestres como modelo; a psicologia moderna é escrita por psicólogos e psiquiatras que tomam como modelo seus pacientes. Por isso constatamos, nos primeiros, um vocabulário repleto de técnicas de purificação e, nos últimos, repleto de doenças mentais.