Aprender um idioma é uma questão de horas de estudo

Aprender um idioma é uma questão de horas de estudo. A função primordial do método, pois, resume-se a manter o estudante estimulado, para que possa estudar mais, e portanto mais rápido aprender. Secundariamente, cabe ao método orientar o aprendizado consoante os objetivos do aluno, isto é, entre as quatro habilidades fundamentais no estudo de uma língua (compreensão oral e escrita; expressão oral e escrita), é função do método mais focar naquela ou naquelas mais almejadas. Em todos os casos, não se vai muito longe sem uma sólida base das quatro. Em todos os casos, o progresso é diretamente proporcional ao tempo de dedicação. O resto é conversa.

A língua entranha-se no próprio pensamento

Nunca escrevi uma linha em inglês, entre as centenas de milhares já saídas de minha cabeça, que não fosse a tradução de um pensamento concebido em português. Nem mesmo num e-mail. E imaginar a batalha travada por tantos escritores do último século, que adotaram voluntariamente uma nova língua para criar literatura… Não se pode conceber um escritor para o qual a língua se limite a um veículo de expressão. A língua entranha-se no próprio pensamento, que através dela se constrói. A estrutura lógica do pensamento não se calca senão na estrutura sintática da língua em que é modelado; são ambas inseparáveis, não podendo a primeira medrar sem a segunda. As palavras, em diferentes línguas, sucedem-se e organizam-se de maneiras distintas; uma evidência não de uma diferença formal, mas de uma distinção entre o gênio dos homens que nelas se desenvolvem. Alterá-lo, já velho, parece um choque de tremendas proporções.

A inteligência que se manifesta pelo estilo

É curioso como as traduções, por mais que fiéis quanto ao sentido do texto, por mais que gramaticalmente corretas, quase sempre falham em transmitir o estilo, ou melhor, a inteligência que se manifesta pelo estilo de um autor. Há algo quase sempre intraduzível de um idioma para outro, que é a organização criativa das frases que explora não somente a sintaxe, mas a semântica particular do idioma em que se discursa. Assim que a tradução o mais das vezes soa estranha, quando o tradutor prudentemente opta por transmitir o sentido, em detrimento do estilo do autor traduzido. Para fazer o contrário, é preciso permitir-se uma liberdade que estará em apuros para livrar-se da falsificação.

 

Uma silabada em latim

Se procede o asseverado por Gilberto Freyre que, há pouco mais de um século, neste mesmíssimo Brasil, uma silabada em latim ou um erro de pronúncia em francês “podia ser a desgraça de um homem com pretensões a culto”, será difícil encontrar na história da humanidade uma tragédia intelectual de mesmo calibre da que se passou em solo verde-amarelo. Em parte, poder-se-ia justificá-lo pela atual “inutilidade” de se ter uma pronúncia francesa correta, “inutilidade” ainda maior para o latim, estudado exclusivamente para ler. Contudo, para não discorrer sobre o “inútil”, salta aos olhos o sepultamento absoluto desta que fora uma tradição aos doutos, ora instruídos de forma inteiramente distinta. Hoje, impressiona a mera constatação que tal tradição existiu, que houve o tempo em que brasileiros aprendiam latim estimulados pela palmatória e formavam-se fluentes em francês. É ver qual será a compensação desta notável falência, já comentada nestas notas…