Há uma certa ironia no fato de que as inumeráveis facilidades que estão hoje disponíveis para o aprendizado de todas as línguas imagináveis são insuficientes para que se possa compreendê-las em profundidade, posto que, após um certo nível, compreendê-las é compreender suas dificuldades. Quer dizer: os inumeráveis e valiosos incentivos ao aprendizado dificilmente permitem que o estudante ultrapasse a superfície do idioma estudado; caso queira fazê-lo, o que tem é justamente de abandoná-los e encarar o difícil, valendo-se dos processos mais arcaicos, conquanto comprovadamente essenciais. Não há saída: chega um momento em que é preciso deixar de lado as brincadeiras e afundar nos dificílimos originais.
Tag: idiomas
Aprender um idioma é uma questão de horas de estudo
Aprender um idioma é uma questão de horas de estudo. A função primordial do método, pois, resume-se a manter o estudante estimulado, para que possa estudar mais, e portanto mais rápido aprender. Secundariamente, cabe ao método orientar o aprendizado consoante os objetivos do aluno, isto é, entre as quatro habilidades fundamentais no estudo de uma língua (compreensão oral e escrita; expressão oral e escrita), é função do método mais focar naquela ou naquelas mais almejadas. Em todos os casos, não se vai muito longe sem uma sólida base das quatro. Em todos os casos, o progresso é diretamente proporcional ao tempo de dedicação. O resto é conversa.
A língua entranha-se no próprio pensamento
Nunca escrevi uma linha em inglês, entre as centenas de milhares já saídas de minha cabeça, que não fosse a tradução de um pensamento concebido em português. Nem mesmo num e-mail. E imaginar a batalha travada por tantos escritores do último século, que adotaram voluntariamente uma nova língua para criar literatura… Não se pode conceber um escritor para o qual a língua se limite a um veículo de expressão. A língua entranha-se no próprio pensamento, que através dela se constrói. A estrutura lógica do pensamento não se calca senão na estrutura sintática da língua em que é modelado; são ambas inseparáveis, não podendo a primeira medrar sem a segunda. As palavras, em diferentes línguas, sucedem-se e organizam-se de maneiras distintas; uma evidência não de uma diferença formal, mas de uma distinção entre o gênio dos homens que nelas se desenvolvem. Alterá-lo, já velho, parece um choque de tremendas proporções.
A inteligência que se manifesta pelo estilo
É curioso como as traduções, por mais que fiéis quanto ao sentido do texto, por mais que gramaticalmente corretas, quase sempre falham em transmitir o estilo, ou melhor, a inteligência que se manifesta pelo estilo de um autor. Há algo quase sempre intraduzível de um idioma para outro, que é a organização criativa das frases que explora não somente a sintaxe, mas a semântica particular do idioma em que se discursa. Assim que a tradução o mais das vezes soa estranha, quando o tradutor prudentemente opta por transmitir o sentido, em detrimento do estilo do autor traduzido. Para fazer o contrário, é preciso permitir-se uma liberdade que estará em apuros para livrar-se da falsificação.