Seria infinitamente mais feliz fosse uma árvore

Seria infinitamente mais feliz fosse uma árvore. Corrijo: uma pedra — hoje árvores são abraçadas… — Pedras não escutam, não são incomodadas, requisitadas, não pagam impostos e, a palavra é exatamente essa, vivem em paz. Senão como componentes da paisagem, são invisíveis. E quem saberá dizer os limites de seu universo interior? A incapacidade de escutar — presumo; pois se escutam, jamais reagem… — é algo realmente invejável e superior. A fraca mente humana, tão vulnerável a sofrer distúrbios terríveis provenientes do ruído, que a submetem e calam-na em extrema facilidade, só tem a invejar a placidez da vida deste insigne ser rochoso…

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Oculta, serpejando em quarto escuro…

Oculta, serpejando em quarto escuro,
Vai ela deslizando, compassada…
E a quietação fá-lo ter-se seguro,
O ser que dorme e não percebe nada…

Pois delicadamente ela rasteja
Por baixo do lençol, não faz ruído,
E como acariciasse, eis qu’ela enseja
Se enrodilhar no membro protegido.

Deleita-se a despeito do perigo
Enquanto sonha o ser inconsciente…
Pois quando acorda, o susto! O triste amigo

Vê-lhe em redor da perna uma serpente.
Sobressaltado em má sorte imprevista,
Agonizante e imóvel: eis o artista!

(Este poema está disponível em Versos)

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O vocábulo “estudo”

O vocábulo “estudo”, na acepção comum, diz respeito a adquirir capacitação para o desempenho de uma função profissional. O “estudo”, se tomado como a busca pela resposta a questões de natureza pessoal, existencial ou como a mera investigação da existência, já não é “estudo”, e sim passatempo. Quer dizer: se não destinado a uma finalidade prática, o esforço é menos nobre, dispensável. Isso, claro, é o que pensa o pragmatismo destes dias, o pragmatismo que dimensiona a própria sagacidade já velho, agonizando num leito de hospital.

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A literatura regional peca pela estreiteza de visão

Uma literatura que se pretenda regional peca, desde o princípio, pela estreiteza de visão. Que são as particularidades, senão agravantes? E como o problema central de uma obra pode ser relevante se não universal? A obsessão com a afirmação regional produz, se muito, obras de qualidade inferior: rebaixam a região descrita se a envolvem em banalidades e privam-na de questões abrangentes. Quando um verdadeiro problema, se explorado por um grande artista, naturalmente elevará o seu povo inserindo-o num contexto que suscita empatia e respeito universal.

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