É demasiado fácil apontar os defeitos e lacunas de uma obra como esta; difícil mesmo é dimensionar o esforço monstruoso necessário para a sua realização. Sem dúvida, apresentar um todo coerente, trilhando sendas apenas apontadas por predecessores, numa obra deste fôlego e desta complexidade, não é tarefa simples. E parece, mesmo, que pela clareza, pela abundância e qualidade de exemplos, é este, de longe, o melhor e mais completo tratado de versificação que há em português. De resto, é parabenizar o excelente trabalho do professor.
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Vai-se outro ano…
Vai-se outro ano, e mais um punhado de páginas prontas para envelhecer. É prazeroso despegar-se e abandoná-las, esquecê-las, e assim livrar-se da obrigação que a elas acorrentava. Mais do que isso: é prazeroso ver que, agora, é o hábito aliado, e já se foram as incertezas e oscilações pregressas. Há um corpo que se amplia, se completa; e apenas por havê-lo pode-se distanciar e apreciar melhor as páginas recentes. Estabilizou-se a empolgação em bom nível, e o futuro menos preocupa que o presente. Basta continuar…
Olhar para trás e sorrir
Afinal, o que importa é olhar para trás e sorrir. É analisar a obra e julgá-la, se não boa, justa. E ver que a intenção não se corrompeu, e que não se fugiu do que havia de ser feito, e que se fez. Se a obra feita ora desagrada, se não se afina com o hoje, é também bom, porque a mudança é boa e é bom aprender. Só importa olhar para trás e sorrir.
Com os termômetros beirando os quarenta graus…
Com os termômetros beirando os quarenta graus, é difícil decidir por escrever, ou estudar, ou qualquer coisa em vez de enviar súplicas ardentes a Deus para que queime logo tudo e encerre este mundo de uma vez. Primavera, primavera… oh, sua detestável! E ainda que se busque inspiração para vencer a angustiante sensação térmica, ela não vem, porque é preciso, antes, tomar outro banho, beber mais e mais água, repousar na esperança de que o corpo refresque e, assim, seja possível tornar a pensar. Talvez seja por isso que já disseram muitas vezes que, para florescer, é no clima temperado que o intelectual se deve instalar. O tropical é-lhe inimigo, posto que lhe acentua as sensações e o impele a… Florescer, Deus, florescer! Suma destas linhas, verbo intruso…