A mais nobre tarefa dos críticos literários…

A mais nobre tarefa dos críticos literários é corrigir o trabalho malfeito dos críticos de gerações precedentes. Isso inclui ajuizar com a distância necessária para o bom juízo, desfazendo exaltações imerecidas e reparando injustiças lastimáveis. Disso se vê que ao crítico, como ao historiador, é mais do que prudente estabelecer de antemão uma linha de corte temporal que delimite a matéria sobre a qual se debruçará: uma linha fria, rígida e isenta, exatamente como faltou aos críticos que terá de corrigir.

Leva um tempo para que o artista descubra…

Leva um tempo para que o artista descubra que a melhor arte que pode fazer é aquela mais íntima, mais genuinamente sua, e não a mais aclamada pela crítica. Leva um tempo porque, ao principiante, parecerá disparatada a ideia de que deve buscar a autenticidade, quando é principiante e, portanto, tem de aprender e tem de ainda se encontrar. Daí que a imitação, em maior ou menor medida, é um caminho natural e proveitoso. Mas chega o momento em que a prática evidencia suficientemente aquilo que é e não é próprio. Então, fica também evidente que a imitação, se muito, é um trampolim para a grande arte, e que esta não pode ser feita senão com a substância daquilo que mais agita a consciência individual.

Deveria bastar ao homem a certeza…

Deveria bastar ao homem a certeza de que é possível sentar-se, solitariamente, e experimentar nas letras uma realidade diferente da exterior, para que seu espírito se descolasse das angústias porventura geradas por esta. A partir do momento em que se compreende quão longe se pode chegar pela mente, a exuberância de possibilidades torna-se um lenitivo potente para a frustração proveniente das urgências, das necessidades e das amarras do mundo material.

Haver um marquês de Maricá…

Haver um marquês de Maricá na literatura brasileira é algo intrigante e algo que, sem dúvida, muito a engrandece. Poder-se-ia interpretar Maricá como um europeu a viver e escrever nesta terra; mas parece preferível interpretá-lo como um homem cuja inteligência suplantou as circunstâncias. Sua obra, devidamente esquecida, representa hoje a antítese da índole de um povo que se perdeu. Um brasileiro, para apreciá-la, necessita, primeiro, de cabelos esbranquiçados e, segundo, de pertencer a outro século que não este, de possuir inclinações outras que não as em voga e, sobretudo, de ser dotado de um temperamento que só as lições da experiência podem conceder.