Haver um marquês de Maricá na literatura brasileira é algo intrigante e algo que, sem dúvida, muito a engrandece. Poder-se-ia interpretar Maricá como um europeu a viver e escrever nesta terra; mas parece preferível interpretá-lo como um homem cuja inteligência suplantou as circunstâncias. Sua obra, devidamente esquecida, representa hoje a antítese da índole de um povo que se perdeu. Um brasileiro, para apreciá-la, necessita, primeiro, de cabelos esbranquiçados e, segundo, de pertencer a outro século que não este, de possuir inclinações outras que não as em voga e, sobretudo, de ser dotado de um temperamento que só as lições da experiência podem conceder.
Tag: literatura
O artista nunca se deve fiar…
O artista nunca se deve fiar na aparente qualidade daquilo que cria, porque é este um parâmetro que, definitivamente, não lhe cabe e nem cabe aos seus coevos julgar. Na pior das hipóteses, deve suportá-la. Fazer arte é direcionar o esforço para a concretização de uma imagem mental sob uma forma artística; fazê-lo, enfim, é dar vida a uma ideia. Na medida em que esta lhe pareça justa e o convença e comova, o trabalho é representá-la com sinceridade e potência, representá-la de maneira que faça jus à vivacidade da representação mental. Quanto ao resultado, ao artista importa somente o grau em que foi possível expressar aquilo que se tencionou expressar, quer dizer, se foi ou não fiel à própria ideia — o que, finalmente, representa se foi ou não fiel a si mesmo.
A possibilidade de fechar um livro
A possibilidade de fechar um livro, tal como as de pular capítulos, avançar ou retroceder, nunca deve deixar-nos a mente enquanto lemos, posto que a leitura, para que bem aproveitada, deve ser motivada e sustentada por nosso interesse. A menos que fale mais alto um dever inarredável, que alicerce portanto a necessidade de ler da primeira à última linha, quando se manifesta um súbito desinteresse durante a leitura, é preciso agir para evitar a perda de tempo e até a incompreensão. Lembrando-nos sempre de que a leitura é uma escolha, podemos aproveitá-la muito mais.
O que faz a recentíssima inteligência artificial…
O que faz a recentíssima inteligência artificial é impressionante. O que vislumbramos que pode fazer, ou melhor, o que seguramente sabemos que fará em pouco tempo, é ainda mais. Por isso, há muitos a suspeitar que esteja a literatura ameaçada, ou que os autores, de certa forma, serão “superados” pela máquina e se tornarão irrelevantes. Isso é, decerto, algo falso. Avance o quanto avançar, aprimore-se tanto quanto possível, mas a inteligência artificial jamais se livrará do adjetivo que lhe está colado. Por este motivo haverá sempre um limite para aquilo que poderá fazer, haverá sempre a impossibilidade de que expresse algo que manifeste uma experiência individual, real e única, algo que sirva como a concretização de uma consciência que evolui e se registra no tempo através das letras. E que a tal inteligência se aprimore! que atinja níveis de espetacular acurácia! Assim ficará mais claro do que nunca aquilo que, em arte, é artifício, e aquilo que é substância.