É sempre perigoso ao artista equilibrar a necessidade de abrangência com a necessidade de não se afastar demasiado do essencial. A primeira é necessária por delimitar, queira-se ou não, a dimensão do próprio artista, cuja obra passará por míope ou viciosa caso não possua se não um equilíbrio, uma variedade que a aproxime razoavelmente daquilo em que consiste a vida e o mundo real. Daí que alguns, resolutos a vencer tal problema, acabam por perder-se em obras que menos agregam e mais descaracterizam a identidade do autor. Não há medida segura. O que é certo é que, assim como pode parecer cansativa a insistência em obsessões que não possuímos, desanima quando nos deparamos com obras nas quais não encontramos resquícios de um artista que julgávamos conhecer.
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Damos mais valor a obras que…
Enfim, damos mais valor a obras que, sob uma perspectiva inteiramente subjetiva, geram um impacto maior. É esse o único parâmetro que nos importa deveras. Parece, também, ser o mais justo, posto que independente de nossas predisposições. Não podemos controlar aquilo que uma obra é capaz de gerar-nos, e disso percebemos que nada podemos fazer quanto à sua força. Assim, em última instância, ao nosso julgamento basta-lhe a sinceridade para admitir o quanto uma obra foi capaz de nos transformar.
Há linhas que, ainda que nos pareçam…
Há linhas que, ainda que nos pareçam repletas de absurdos, conduzem-nos o pensamento a áreas interessantíssimas e por vezes inexploradas. Por isso, faz bem que incentivemos a exploração do contrassenso: dele ocasionalmente extraímos o inédito e inesperado, e podemos chegar a paradeiros surpreendentes, ainda que não tenha sido esta a intenção do autor que está em nossa companhia. Faz diferença? Parece que não…
Evita-se muita frustração lembrando-se…
Evita-se muita frustração lembrando-se de que a arte também é majoritariamente constituída de homens medíocres, com inclinações medíocres, que aprenderam a técnica artística como aprenderiam a soltar pipa ou a jogar Sudoku. Assim, a maioria se distingue apenas superficialmente, quando em essência nada têm de superior. Portanto esperar, a cada obra, a descoberta de um espírito extraordinário é simplesmente irracional. Justamente por serem raros é que os grandes artistas merecem um apreço especial.