Quando o estilo se impõe e agrada…

Quando o estilo se impõe e agrada, pode-se tolerar um passo que não diga nada importante. Em alguns casos, tolera-se mais, muito mais que um único passo, a depender da qualidade do autor. É interessante observá-lo porque é isso a prova de que o prazer estético, sozinho, pode sustentar o interesse. Assim que a poesia metrificada, estética e gramaticalmente bem construída, leva uma vantagem óbvia e pode, apenas pelo esmero da técnica, nos agradar. Há muitos versos que não têm muito além disso, e ainda assim parece-nos suficiente e parecem-nos tais versos bons. O mesmo vale para a prosa, e não são raros os exemplos em que poderíamos dizer que, em suma, o estilo é o autor.

Não há maturidade nem experiência capazes…

Não há maturidade nem experiência capazes de eliminar a pungente frustração quando nos deparamos com um erro — exatamente isso, um erro — numa obra literária já escrita e já revisada por nós. Que dizer? Algo parece certo: eles estão lá, e estarão sempre lá. É uma sensação verdadeiramente indescritível a de encontrar, ali, a prova irrefutável da displicência, e então sentir a mão coçar como a de Kafka para acender uma grande fogueira e lá atirar o trabalho malfeito. Não importa quanto tempo passe, nem quanto se aprenda: não é possível vencer, nem o erro, nem a frustração.

Enquanto, na prosa, a pontuação tem…

Enquanto, na prosa, a pontuação tem como uma de suas funções primordiais a demarcação lógica do discurso, na poesia esta função parece sempre subordinada à estética dos versos. Há situações em que, instintivamente, percebe-se o verso a repelir a lógica e pedir que corra livre ou que se ignore aquilo que, na prosa, seria obrigatório. Aos que fazem versos e respeitam a língua com a qual trabalham, o mais difícil parece ser dissuadir o cérebro de suas implicâncias, e convencê-lo de que, em poesia, às vezes é proveitoso deixar de lado as exigências do discurso racional.

A língua sempre tem algo novo a nos ensinar

No estudo da língua, embora pareça, a princípio, que gramáticos, filólogos e similares travam uma verdadeira guerra entre si, e que as desavenças que escancaram diante de nossos olhos pareçam acusações de ignorância ou algo pior, todos eles, se verdadeiros estudiosos da língua ou, melhor, se apaixonados por aquilo que estudam, brindam-nos com observações, no mínimo, merecedoras de atenção. Por organismo vivo que é, por criar-se e recriar-se continuamente, é impossível que a língua não suscite infinitas contradições. E, por mais que nos pareçam, às vezes, descabidas determinadas abordagens, ou nos pareça demasiada pretensão querer observá-la sob uma ótima inteiramente nova, ignorando o legado histórico que nos foi transmitido, a língua, por si só, sempre tem algo a nos ensinar; há nela sempre um aspecto por nós ignorado, seja por razões geográficas, temporais ou quaisquer outras, que pode abrir-nos a visão para novas possibilidades. Por isso, nenhum daqueles que a têm como dimensão necessária pode se permitir o luxo de deixar de estudá-la até o fim da vida; fazê-lo é, simplesmente, desperdiçá-la e desperdiçar-se.