Se um povo não possuísse nenhum distintivo…

Se um povo não possuísse nenhum distintivo além da linguagem, esta já seria suficiente para dar-lhe uma literatura inteiramente original, ainda que se limitasse refazer o já feito em outros idiomas. Quer dizer: se a linguagem é autêntica, nunca se imita, porque nela sempre haverá algo de singular. Mas além disso: a maior literatura será aquela que englobar, no próprio idioma, a maior gama de modelos e temáticas, e portanto é mais que conveniente, mas necessário repensar na própria língua o que já foi pensado noutras, recriar o já criado dotando-o, pela linguagem, de cores autenticamente vernáculas: só assim se constrói uma tradição literária vigorosa e de valor universal.

Há frases que valem mais do que livros

Há frases que valem mais do que livros, e é interessante notar como nem sempre o estudo aprofundado é fonte da maior inspiração. Há em quem uma frase potente ou mesmo um resumo repercuta com intensidade capaz de gerar consequências decisivas, transformadoras e inimagináveis. São casos em que o impacto, pela própria força, dispensam quaisquer análises ou reflexões posteriores. E então a frase, assimilada, permanece em mente associada ao clarão que carregou junto de si. É saber valorizá-las.

É sempre perigoso ao artista…

É sempre perigoso ao artista equilibrar a necessidade de abrangência com a necessidade de não se afastar demasiado do essencial. A primeira é necessária por delimitar, queira-se ou não, a dimensão do próprio artista, cuja obra passará por míope ou viciosa caso não possua se não um equilíbrio, uma variedade que a aproxime razoavelmente daquilo em que consiste a vida e o mundo real. Daí que alguns, resolutos a vencer tal problema, acabam por perder-se em obras que menos agregam e mais descaracterizam a identidade do autor. Não há medida segura. O que é certo é que, assim como pode parecer cansativa a insistência em obsessões que não possuímos, desanima quando nos deparamos com obras nas quais não encontramos resquícios de um artista que julgávamos conhecer.

Damos mais valor a obras que…

Enfim, damos mais valor a obras que, sob uma perspectiva inteiramente subjetiva, geram um impacto maior. É esse o único parâmetro que nos importa deveras. Parece, também, ser o mais justo, posto que independente de nossas predisposições. Não podemos controlar aquilo que uma obra é capaz de gerar-nos, e disso percebemos que nada podemos fazer quanto à sua força. Assim, em última instância, ao nosso julgamento basta-lhe a sinceridade para admitir o quanto uma obra foi capaz de nos transformar.