A evolução da poesia de Manuel Bandeira descreve, muito mais do que uma rebeldia estética, uma busca por autenticidade, um despojamento progressivo de adornos a fim de centrar-se no fundamental. É uma poesia que mais buscou livrar-se de artificialidades que inventar outras novas; uma poesia íntima, pessoal e sincera, original antes pela expressão de uma individualidade que pela forma — a forma, esta que o próprio Bandeira expressamente taxou de secundária e que parece, a alguns, constituir-lhe a essência da criação poética. É por isso que não se imita Bandeira: para fazê-lo, seria preciso sê-lo; uma honra que felizmente não será concedida a ninguém.
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Análises acadêmicas de poemas
Parece haver algo de errado, contraproducente e absurdo nestas análises acadêmicas de poemas, que dissecam os versos a ponto de ressaltar o efeito expressivo de cada uma das letras que lhes compõem as palavras. O contrassenso salta aos olhos quando defrontamos o resultado: infinitos parágrafos que mais escondem a essência dos versos que a elucidam. É curioso: enxergam estes acadêmicos antes aliterações, antes assonâncias que o próprio sentido das palavras que leem. Não há negar que tais recursos expressivos por vezes reforçam uma ideia; mas é isto que fazem: reforçam, resumindo-se a auxiliares. Chega a ser ridículo querer enxergar o analista intenção expressiva em sibilantes quando o autor limitou-se a usar palavras no plural, para não mencionar exemplos piores. Que é isso? Por fim, ficamos com a sensação de que o que há é uma tentativa de idealização do fútil em detrimento do essencial.
Parece carecer o poema de um apoio
No que tange ao ritmo, parece carecer o poema de um apoio, uma tonicidade esperada em sílabas específicas, para que haja um senso de harmonia e que as rupturas planejadas possam se destacar. Se varia o padrão rítmico a cada verso, não há padrão e, portanto, não há base rítmica sobre a qual os versos se apoiem. A menos que declaradamente se faça poesia destituindo-a de musicalidade, a regularidade tão criticada parece uma condição necessária a poemas que se queiram bons.
A língua oferece, a todos, possibilidades idênticas
A língua oferece, a todos, possibilidades idênticas. Não é ela senão um conjunto imenso de signos a ser utilizada como veículo de expressão de ideias, fatos, sentimentos. Numa obra de arte, pois, o manejo da língua, o estilo, será tão mais autêntico quanto mais individualizar a expressão daquilo que se propõe a expressar, ou seja, quanto mais a singularidade do artista ficar exposta através do conjunto de signos universal. Pois bem. Parece que a partir deste raciocínio — correto — ficou legitimado o vale-tudo nas letras e, em razão de outro raciocínio que frequentemente o acompanha, — o de que, em arte, o importante é ser “original”, — verdadeiras aberrações foram reputadas como maravilhas. Defrontando tais obras, ficamos com a sensação de que há algo de errado, de que não pode ser bom algo tão simplório, somente por diferente. E então parece justo observar que a verdadeira maestria, em arte, faz aparentar simples o complexo — e não o contrário…