El árbol de la ciencia, de Pío Baroja

Pío Baroja conduz esse romance de maneira admirável. É curioso notar como variam as manifestações de um Andrés, embora seja inevitável que um personagem como este afunde-se progressivamente em decorrência de sua incapacidade de deixar de pensar. O raciocínio, pois, produz um constrangimento que só se agrava com o tempo, enfim cristalizando numa declarada inadaptação ao mundo. Tudo isso é natural… Mas Baroja opera, no antepenúltimo capítulo, uma reviravolta impressionante na trama; um capítulo adiante já não cremos no desfecho que se parece desenhar. Então, habilidosamente, Baroja estraçalha a anormalidade e a história parece se encerrar de maneira mais natural, — e talvez mais convincente, — deixando Andrés, enfim, em paz com seus semelhantes.

Fazer bons versos é difícil

A verdade é que fazer bons versos é difícil: é preciso apuro, paciência, elevação de ideias… ao passo que, para fazer versos chamados bons, basta uma afinidade. Ocorre que ser exótico, em poesia, é por vezes cativante; por vezes diverte e até impressiona a novidade técnica; contudo, após algumas páginas, deixa esta de impressionar e fica evidente as paragens habitadas pela mente criadora. Se não há engenho, se não há grandeza, se não há profundidade, se lhe resumem os versos em brincadeiras e futilidades, tudo isso torna-se impossível de esconder.

O poeta moderno, adepto das práticas…

O poeta moderno, adepto das práticas em voga de exterminar a pontuação dos versos, alterar grafias, ignorar maiúsculas, desenhar com letras, repetir palavras exaustivamente, etc., etc. tem de concentrar-se muito para não se passar por uma criança ou, em casos mais graves, por um retardado mental. Como pouquíssimas páginas bastam para enjoar de tais artifícios! Depois, ficamos a perguntar: e que mais? Frequentemente, temos de concluir que não passam eles de disfarces para uma incapacidade de se trabalhar palavras de maneira dinâmica e interessante, mostrando domínio e valendo-se criativamente dos recursos que oferecem o idioma. Acabamos por refletir naquilo que tanto repetem os latinistas, e parece mesmo a inteligência estar relacionada à habilidade na articulação da linguagem…

A evolução da poesia de Manuel Bandeira

A evolução da poesia de Manuel Bandeira descreve, muito mais do que uma rebeldia estética, uma busca por autenticidade, um despojamento progressivo de adornos a fim de centrar-se no fundamental. É uma poesia que mais buscou livrar-se de artificialidades que inventar outras novas; uma poesia íntima, pessoal e sincera, original antes pela expressão de uma individualidade que pela forma — a forma, esta que o próprio Bandeira expressamente taxou de secundária e que parece, a alguns, constituir-lhe a essência da criação poética. É por isso que não se imita Bandeira: para fazê-lo, seria preciso sê-lo; uma honra que felizmente não será concedida a ninguém.