Todo artista deveria ansiar pelo anonimato, pois com paredes é possível travar diálogo sincero sem incorrer no risco de sofrer incômodos. As paredes aceitam silenciosas que a arte evolua e a expressão torne-se cada vez mais potente. Contudo, parece a publicação, — isto é, a sujeição à perseguição, — um dever do artista, em honra de todos aqueles que o precederam e padeceram do ódio dos imbecis.
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Da história para a metafísica…
É muito mais produtivo saltar de um Sartre para um Swedenborg, fechar a Bíblia e abrir os Upanixades, passar da história para a metafísica do que empanturrar-se do mesmo alimento, restringindo o horizonte do intelecto e privando-o de se imergir em diferentes matérias, valores e estilos. Oscilar entre extremos buscando pelo valioso de tudo e absorvendo-o tanto quanto possível: com essa técnica, até o cérebro mais renitente é forçado à evolução.
O escritor que se atrevesse a criar um personagem como Jakob Boehme…
Se um sapateiro deu luz a centenas de páginas de interpretações metafísicas… Fico pensando: o escritor que se atrevesse a criar um personagem como Jakob Boehme cairia no ridículo. É inevitável. O raciocínio não admite tamanho contraste; recusar-se-ia inevitavelmente a creditar a narrativa. Não obstante, aí está… A primeira objeção da mente seria: “Um pensador dessa estirpe se não rebaixaria nunca a um trabalho manual”. Em seguida prosseguiria, insuportável como de costume: “Tais reflexões só brotam de uma natureza cem por cento devotada ao espiritual”. A conclusão: “História estúpida e falsa”. De idêntica maneira, julgaria caso defrontasse um Boehme vivo e falante. Nisto mede-se a vastidão da miséria do pensamento objetivo.
As conferências de Thomas Carlyle
Meus dedos rebeldes estão ouriçados após o contato com as conferências de Thomas Carlyle. Querem respondê-lo, querem porque querem — mas não irão. Lamento dizer aos escravos que se controlem e contentem-se com a breve ironia que lhes já foi permitida. Thomas Carlyle, com efeito, é uma inteligência notável e instrutiva; a interpretação de seus “heróis” muito tem a acrescentar. Não sei por que motivo, analisá-lo traz-me Chesterton à mente: talvez porque ambos mereçam, a despeito da incompatibilidade patente, o meu aperto de mão.