Entre todos, talvez tenha sido Mozart o artista mais genuíno e mais genial. É absolutamente impressionante constatar a vastidão e a qualidade de sua obra, e se consideramos suas modestas três décadas e meia de vida… Parece não haver quem se lhe aproxime. Parece inexplicável e impossível uma obra tão vasta, tão bela, tão tocante e tão potente. Um artista de manifestações inesgotáveis e sempre excelsas: cativa o Mozart das sonatas, encanta o Mozart dos concertos, espanta o inigualável Mozart do Réquiem. Como isso? como de um único homem? No caso de Mozart, haver as perguntas mais do que satisfaz…
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Uma orquestra de ponta é quase que uma salvação cultural
É indescritível a sensação de ver, em cores, uma orquestra de primeira linha a tocar. Digo ver e já não sei se deveria ter dito sentir. O dispêndio de cifras incríveis para mantê-la justifica-se por ser uma orquestra de ponta, a depender de onde esteja inserida, quase que uma salvação cultural. Sentindo-a conclui-se: há esperança. Presenciar, simultaneamente, dezenas de homens que lhes dedicam a existência à arte; que, após longos anos de estudo e prática intensa, treinam, treinam e treinam para, numa curtíssima apresentação, transmitir a quem a vê o gênio de espíritos que atravessaram os séculos, espíritos nobres e imortais. Notar a sutileza de movimentos sincrônicos, precisos e carregados de sentimento; calar-se e deixar-se guiar por uma melodia sublime; experimentar um contato direto com algo belo: uma experiência desta natureza eleva moralmente o público que a vivencia.
A distinção da música
Entre todas as artes, é a música indubitavelmente a que melhor possibilita a expressão de sentimentos sem nome, estados de alma complexos e logicamente inexprimíveis, como é também a que melhor permite a concatenação de impressões e sensações díspares, operando como que uma conciliação impossível. Deixar-se conduzir por um Chopin é imergir num campo onde afloram emoções múltiplas que atiram a percepção em êxtase. Chopin: o gênio que harmonizou sutileza e intensidade elevando-as simultaneamente ao cume — a primeira mediante a mão direita, a segunda mediante a esquerda.
Amy Winehouse
Imagino-me após um ano casado com Amy Winehouse. Já seria impossível qualquer tipo de contato físico; haveria, entre nós, uma repugnância pungente e total. Não haveria diálogo; claramente, não teríamos sequer afinidade de caráter. Se alguma paixão tivesse precedido o matrimônio, então ela agora estaria devidamente sepultada, arrefecida pelo tempo e pelas discrepâncias de temperamento. Com absoluta certeza, já estaria sendo traído a descoberto. E então me imagino, no quarto ao lado, ouvindo-a diariamente a ensaiar. Não pediria o divórcio.
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