Variações psicológicas

É interessante notar como varia aos extremos o psicológico de grandes artistas. Em comum se lhes nota a sinceridade. Mas como divergem, por exemplo, na visão que nutrem da própria obra! De um lado, exemplos como Kafka e Flaubert, em que a obra lhes parece não somente ruim, mas lhes machuca, aflige ter de pari-las e mirá-las posto são guiados por algo como que uma necessidade. De outro lado, figuras como Nietzsche e Pessoa, onde o desalento ante o espelho não somente parece inexistente, como se lhes nota com frequência uma vistosa imodéstia. Que concluir? Fica evidente que a grande arte é destino a que levam múltiplos caminhos.

Há seres humanos adaptados e inadaptados

Há seres humanos adaptados e inadaptados, satisfeitos e inconformados, aqueles que gostam da vida e aqueles que acham-na um incômodo. Os que vivem, os que pensam; conforto, desconforto; esperança, desilusão. Pode haver, no ser humano, ambas as dimensões; pode ser que as não haja. Estranha observar o consenso velado de que haja um “normal”. A verdadeira pergunta é: como conduzir as diferentes e naturalíssimas disposições mentais? Respondendo-a, notaremos que se extrai valor do equilíbrio e do caos.

A crise da meia-idade

Muitos psicólogos colocam demasiada ênfase nos aspectos saudosistas da chamada “crise da meia-idade”. Não lhes nego a importância, mas creio configurarem tão somente a manifestação banal de um problema que pode ser muito mais profundo. Meia-idade geralmente denota encarar o fracasso, ver enterrado aquilo que um dia se chamou de “sonho”. Noutros casos, em casos de “sucesso”, caracteriza o período onde se escancara a inutilidade das próprias conquistas, a estupidez da vida cotidiana e a falta de ânimo para avançar. Tudo isso em razão de uma frustração quanto ao presente e não de um desejo de reviver o passado. Aos vinte, a vida é interessante porque promissora, porque repleta de “perspectivas” que o tempo cuida eclipsar. O indivíduo, então, depara-se imerso num vácuo. Em última instância, a meia-idade não faz senão lhe evidenciar a falta de sentido da existência. Mas faz, também, com que ele abra os olhos e raciocine, e se há algo que podemos chamar de “maturidade”, esta geralmente exige o que a psicologia clínica chama de “depressão”. O depressivo testemunha a própria sanidade mental.