Embora seja útil a tentativa de atribuir sentido às manifestações mentais inconscientes, é preciso que se estabeleça uma escala de importância para aquilo que se vai descobrindo; do contrário, a mente atira o analista em terrível confusão. É simples erro achar que a mente não revela senão aquilo que ocupa o posto de maior relevância momentânea ou atemporal, que tudo quanto evoca possui um profundo e importantíssimo sentido: para constatá-lo, basta um pouco de atenção e bom senso. Se às vezes evoca imagens de significado indiscutível, noutras parece tão somente brincar. Pois que brinque…
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A criação de amigos imaginários
Como sabiamente recomendou Fernando Pessoa, a criação de amigos imaginários, o exercício de conversações mentais que jamais seriam efetivadas em vida, a realização do impossível pela mente, tudo isso, para além dos benefícios provenientes das novidades infinitas, acarreta contribuições inestimáveis para a organização do raciocínio. É uma prática que testa limites, expõe contrapontos, alastra horizontes, além de suprir a carência oriunda da limitação da experiência. A mente sai fortalecida porque exercitou-se e conheceu mais, o pensamento toma contornos mais sólidos, e o hábito, com o tempo, converte-se numa salutar, prazerosa e insubstituível necessidade psíquica e existencial.
Embora muito se ganhe e algo se possa apreender…
Embora muito se ganhe e algo se possa apreender da mente através da interpretação dos sonhos, é preciso muito cuidado para não cair na tentadora estupidez de racionalizar o não racionalizável. Muito útil, sem dúvida, estar atento ao que se passa em estados onde a consciência volatiza; há muito que se aprender e o exercício é assaz estimulante. O que não se deve fazer é sucumbir à necessidade lógica de atribuir sentido a manifestações espontâneas, imprevisíveis, irracionais. Um estudo acurado, com o tempo, aponta ligações, coincidências, e talvez um ou outro arquétipo circunstancial ou emotivo particular da mente analisada. O resto varia como variam a experiência, o temperamento, a conjuntura da vida real, os lances recentes e, também, a ilimitada imaginação. Considerando tudo isso, há de se admitir que, embora frequentemente malbaratado, este é um estudo, no mínimo, intrigante.
Graduações de manifestações mentais
Há vezes que a ideia pouco vale — mas deve ser anotada; — em reflexão ulterior, porém, é justo descartá-la. Outras vezes a ideia parece fraca, mas posteriormente, reexaminada com alento renovado, tira-se-lhe algo valioso, e o fraco demonstra-se centelha importante. Outras a mente manifesta-se com clareza, e a ideia parece justa — destas extrai-se o grosso de uma obra. E outras ainda, a mente manifesta-se com tamanho ímpeto que o artista, refreando-a, deixando de imediatamente debruçar-se sobre quanto ela tenta dizer-lhe, comete um crime contra si mesmo, e desperdiça o melhor que pode extrair de suas manifestações mentais. Não basta atenção e método; para o aproveitamento máximo da mente, é preciso uma disposição que contraria o conveniente.