É na religião que se fundamentam…

Quase sempre, é na religião que se fundamentam os atos de maior grandeza praticados por homens de todas as civilizações. E disso facilmente se nota a importância da educação religiosa, e quão proveitosa ela pode se mostrar na formação do caráter. É muito difícil imaginar um ateu médio capaz de suportar com altivez as duríssimas provações que tão frequentemente encontramos na vida de grandes religiosos, quando o necessário é justamente fazer aquilo para o qual não foi instruído: amparar-se em algo maior. Diante das dificuldades, o ateu está sempre em desvantagem, e o utilitarismo que o mais das vezes cultiva é a garantia de que, cedo ou tarde, ser-lhe-á conveniente a escolha da corrupção.

Quando investigamos a fundo tradições místicas…

Algo que se há de notar é que, quando investigamos a fundo tradições místicas, ainda que, a princípio, se nos pareçam algumas delas simplíssimas e superficiais, acabamos sempre encontrando algo rico e interessante. E então comparamo-las e vemos de quantas formas se pode chegar a conclusões semelhantes, e de quantas formas se pode chegar a conclusões diferentes, mas igualmente válidas e edificantes. Se proveniente de uma busca sincera e desinteressada, não há doutrina indigna de nossa atenção.

Um elemento genuinamente brasileiro

Se há um elemento genuinamente brasileiro que, perante o mundo, destaca-se sobremodo, é a tal espiritualidade, como se convencionou chamá-la. Neste quesito o Brasil, ainda que não se reconheça, põe-se dignamente se não ao lado, a um nível muito chegado ao de qualquer país, a despeito de quão mais antigo seja. E se lhe comparamos o refinamento espiritual a um país de idade parelha como, por exemplo, os tão invejados Estados Unidos, o resultado é acachapante. Tal é simplesmente um fato. A maneira como aqui se desenvolveram e enriqueceram as tradições religiosas, quais importadas, quais originais, é impressionante e não se deve apenas ao sincretismo e à miscigenação cultural. Nasceram em solo brasileiro indivíduos singularíssimos, alguns verdadeiros gênios, algo que já poderia muito bem servir como os “pretextos pessoais e históricos” que, segundo Nelson, justificariam a falta de autoestima tupiniquim.

O homem que se priva da dimensão religiosa…

O homem que se priva da dimensão religiosa perde em experiência, perde em potencialidade e perde, sobretudo, em conhecer-se. Havê-la é algo que não pode negar, e ignorá-la não é senão mutilar-se. Assim que, caso queira conhecer-se e entender-se inteiramente, deve estimulá-la e manifestá-la ainda que pela busca. E se, um dia, chegar à conclusão que o esforço religioso não o premiou, verá que sua própria existência já é evidência de uma aspiração superior, de um desejo sincero de encontrar o elo que o liga ao restante da criação: uma evidência, portanto, que não pode senão enobrecê-lo.