Embora em muito pareçam razoáveis as explicações orientais para as discrepâncias extremas de condições em que nascem os seres nesta terra, não parece fazer sentido o psicopata assassino renascer santo, ou o inverso. Quer dizer: onde está, pois, o elo que une naturezas tão diferentes? É muito difícil aceitar a doutrina do carma quando notamos indivíduos pagando por atos que não seriam capazes de cometer. Se uma mesma essência há de se manifestar em variadas circunstâncias, algo de si tem de subsistir para que seja identificável, ou seja, para que seja ela mesma numa circunstância diferente. Não parece plausível que, a cada vida, em se tratando de um mesmo ser, este desenvolva um temperamento que não guarda semelhança alguma com aquilo que foi. Se é assim, o que, então, o define? E como admitir a suposta “evolução espiritual” pela qual deve passar, se a cada vida, irreconhecivelmente, retorna à estaca zero? Para estas perguntas, o que há de respostas não parece satisfatório…
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Baixíssimo nível
Vou por um autor célebre e não recomendado que propôs uma espécie de hedonismo renovado. Indulgência, abundância material, e uma vida orientada para a satisfação plena dos desejos. Que piada! Comenta o sujeito sobre várias religiões, e a cada nota mostra-se supinamente ignorante sobre todas. Diz ele que, no oriente, houve quem propusesse pela religião um caminho para misturar-se a uma “consciência universal”, posto ser difícil, nestas regiões do globo, o acúmulo material, e portanto razoável fornecer a este povo algo que supere e não dependa daquilo que não podem alcançar. Adiciona, também, que a reencarnação foi concebida como bálsamo para aqueles menos favorecidos nesta vida; portanto, alimentando-os da esperança de uma vida futura melhor. Oh, Senhor! E um sujeito desta estirpe como líder religioso! Não se deu o trabalho de ler um resumo histórico das religiões que comenta, para descobrir que no oriente floresceram no seio de palácios, onde a abundância material e a satisfação dos desejos conduziram a um tédio insuportável! onde a ideia de viver esta vida uma e outra vez ao infinito, como sugere a reencarnação, não lhes suscitava senão terror absoluto, levando-os a tomar medidas extremas para romper com esse ciclo detestável!
A prática religiosa perde a nobreza quando…
A prática religiosa perde a nobreza quando, em vez de trabalhar pela purificação espiritual, serve ao homem como compensação aos vícios rotineiramente praticados ou, pior, converte-se-lhe em veículo de expressão de todos eles. É natural que o homem, tendo em si o mal, busque meios para canalizá-lo. Mas ver religiões, isto é, práticas que deveriam esforçar-se para que o homem se livre da própria miséria, dando azo à inveja, à vaidade, à vingança, ao impulso que se afirma em detrimento do outro e inúmeras outras manifestações lamentáveis e destrutivas, induz a imenso desgosto e à conclusão amarga de que a espécie definitivamente não tem solução.
Exercicios espirituales, de Inácio de Loyola
Percorro estes Exercicios espirituales, de Inácio de Loyola, e não posso deixar de imaginá-lo a compô-los nas condições incrivelmente miseráveis descritas em sua biografia. A comparação com Frankl é inevitável. Se confrontamos o teor destas linhas, ou melhor, se consideramos estas linhas como originárias das circunstâncias que rodeavam-lhes o autor, deparamo-nos com uma pujança psicológica inquebrantável capaz de proezas quase sobre-humanas. Enfim, vemos método no esforço consciente em atribuir sentido para as misérias vivenciadas, na afirmação contínua de um voto, na superação dos próprios limites, na transformação da mente em fortaleza indestrutível. Esses Exercicios atestam a vitória absoluta de Inácio sobre o meio circundante e sobre si mesmo. Linhas admiráveis!