Talvez o problema mais intrincado que se coloca ao romancista brasileiro é o retratar, ou não, a linguagem coloquial. Assumindo esta necessidade, dá-se o complicadíssimo problema da medida, para o qual não parece haver solução segura. Quer dizer: o abismo que há entre o português falado no Brasil e a língua culta é tão imenso, mas tão imenso, que não há conciliação possível, mas traições toleráveis, ou quiçá necessárias, que se intercalam no modelo escolhido. A linguagem culta, ante a coloquial, é no português brasileiro a artificialidade e o ridículo. Já a linguagem coloquial não se insere no português formal senão como um conjunto infinito de erros ortográficos, prosódicos, sintáticos, os quais se retratados com fidelidade tornam o idioma quase irreconhecível. Como, então, resolver? O romancista, se efetivamente enxerga a situação que narra, naturalmente se sentirá coibido a colocar na boca de um personagem um discurso para ele inconcebível. Ao mesmo tempo, é romancista, não orador; maneja, pois, — e oxalá ame, — a língua e a tradição escrita. De tudo isso, há apenas uma certeza: o mais fácil é não ser romancista no Brasil.