Tornou-se corriqueiro dizer da preguiça o principal vício do caráter brasileiro. Nada mais falso! Este posto pertence à maledicência, e a uma maledicência suprema e sui generis. No Brasil, tal vício não remonta como noutras bandas simplesmente à inveja. A maledicência, aqui, começa pelo hábito, pelo impulso incontrolável, inato e cotidiano de falar da vida alheia, algo desde logo detestável. Disso para maldizer, contudo, há uma distância que só pode ser preenchida por uma infâmia mais profunda: a inveja, sim, mas também a covardia, a necessidade de aceitação, a mesquinhez desmedida, a ausência de personalidade, como muitíssimo bem retratado por Orígenes Lessa. Talvez seja mais simples colocar a questão da seguinte maneira: o maldizente brasileiro não deseja as qualidades do objeto de seu maldizer; ele deseja, pelo contrário, que este as perca e desça ao seu nível miserável; maldiz, pois, não por um “querer valorizar-se”, mas para amesquinhá-lo, algo só possível num espírito que desceu ao mais baixo entre os círculos da mediocridade.